Ponto de Autoignição, o Ponto de Liberdade!

Para entendermos o ponto de autoignição, precisamos falar primeiro sobre o que é ignição. Mas antes que você jogue fora este texto por achar que ele não tem nada a ver com espiritualidade e religião eu te peço para ler até o final porque jajá eu vou relacionar as duas coisas. Combinado?

 

Ignição e Autoignição

A ignição é um processo no qual algum dispositivo produz uma faísca para fazer fogo. O fogão elétrico da tua casa usa esse processo, os nossos antepassados usavam esse processo quando batiam duas pedrinhas para gerar a faísca etc.

Já o ponto de autoignição, como o prefixo “auto” nos indica, é o processo no qual o combustível pega fogo espontaneamente, sozinho, sem nenhum dispositivo externo para gerar a faísca. Mas como isso é possível? Bom, isso acontece devido ao calor! O combustível pode ser elevado a uma temperatura alta o suficiente para fazer com que ele pegue fogo por si só.

Há alguns dias eu estava cozinhando e deixei uma panela de óleo no fogo para aquecê-lo antes de colocar a batata para fritar. Enquanto isso, dei às costas para o fogão e fui fazer algumas outras coisas. Eu estava ouvindo música no fone de ouvido e acabei esquecendo do óleo até que eu olho para trás e a cozinha está cheia de fumaça preta, que estava saindo daquela panela.
Bom, eu quase presenciei o ponto de autoignição do óleo acontecer.

 

O Triangulo do Fogo

Para o fogo acontecer é preciso haver 3 coisas: combustível, oxigênio e calor. Esses três elementos formam o triangulo do fogo e se um deixa de existir, o fogo deixa de existir.

Por exemplo: se uma madeira está pegando fogo e jogamos água, a gente esfria a madeira e o fogo apaga. Ou então se uma panela de óleo está pegando fogo, a gente pode tampar a panela e o fogo apagará, porque tiramos o oxigênio. Ou ainda se estamos segurando um isqueiro acesso e queremos apagá-lo, simplesmente soltamos aquele botãozinho, com isso o gás para de sair e o fogo apaga porque tiramos o combustível.

Na nossa vida espiritual o processo é o mesmo. Por isso, se entendermos como funciona o fogo, vamos entender como ter uma vida incendiada pelo Espírito Santo!

 

O Triangulo do Fogo Santo

Esse tal triangulo do fogo está presente da mesma forma na vida espiritual. O combustível somos eu e você e sempre vai existir enquanto estivermos vivos. O oxigênio é o Espírito Santo, que está sempre disponível e desejar te inflamar. Mas o calor? Ah, o bendito calor… Como aquecer a nossa vida para que dela brote o fogo que Jesus deseja no mundo?

Nós precisamos reavivar o DESEJO. Esse é o nosso calor, é isso que falta para que o nosso coração arda em chamas de amor.

Você já reparou que muitas vezes está frio, desanimado e então vai a algum grupo de oração, faz uma novena, conversa com um amigo de confiança, formador ou diretor espiritual, assiste uma pregação no Youtube e aquilo parece te acender de novo? Então, esse é o processo de ignição do qual nós precisamos enquanto estamos na infância espiritual. Dessa forma estamos sempre dependendo do externo, o fogo em nós não se sustenta e tão pouco conseguimos recuperá-lo.

Isso acontece porque você enquanto combustível está aí, o Santo Espírito enquanto oxigênio está aí, mas cadê o desejo que é o calor desse triangulo? Está adormecido, escondido, mal direcionado ou então nem existe. E por isso a vida fica parada e pesada, porque o fogo não consegue existir.

 

O Desejo

Não obstante no momento no qual nós nos apaixonarmos de verdade pela missão que Deus nos deu, pelo Carisma que Ele nos deu por confiança e misericórdia, pelas vidas que Ele decidiu confiar aos nossos cuidados, por aquelas e pela nossa própria alma.

Essa paixão vai gerar espontaneamente o desejo, uma pulsão de vida, o amor. Se ainda conseguirmos projetar e imaginar o impacto que tudo isso pode fazer no mundo, ao nosso redor… Como não pegar fogo? Pois aqui está o nosso ponto de autoignição!

E ainda, se pra além da nossa missão conseguirmos enxergar que Ele nos deu a vida pura e simplesmente por amor, que viveu toda Kenosis para nos salvar, que perdoa sempre os nossos pecados, que nos cumula de Graça e deseja que passemos a eternidade ao seu lado. Como não nos enchermos de raiva por tanto tempo ignorar tudo isso e usar bem essa emoção para mudar a vida?

As coisas de Deus são as maiores fontes possíveis de desejo para a nossa vida, porém também existem coisas mais comuns que podem ser uma fonte complementar de calor, como por exemplo a profissão, um sonho específico, causas particulares, um namoro e paixão que acontece junto dele, outras missões de vida etc.

É preciso tomar consciência disso tudo, nos apaixonarmos porque só assim ninguém mais vai precisar ficar me faiscando, mas nós passaremos a nos incendiarmos espontaneamente, passaremos a incendiar o combustível que é o irmão que está do seu lado meio frio, sem vida.

 

Ignição e Autoignição em Atos 2

Isso já aconteceu na história, isso aconteceu com os Apóstolos. Quando eles ainda eram imaturos na fé, viviam se apagando uns aos outros e Jesus sempre precisava voltar a motivá-los e ensiná-los para que eles voltassem a pegar fogo (que logo se apagava e de novo Jesus precisava repetir o processo).

Mas em Atos dos Apóstolos, capítulo 2 isso muda. O Espírito Santo que é oxigênio desce também como fogo, como calor e transforma aqueles corações medrosos em corações desejosos, ao passo que nunca mais foi preciso em sua vida uma faísca, pois aqueles corações ardiam de calor o tempo todo.

A partir daquele momento eles destravam uma chave interior.

Existe uma cena no filme Vingadores (2012) no qual o Bruce Banner (personagem que se transforma no Hulk) chega numa batalha todo mirradinho, sujo, numa moto caindo aos pedaços, todo inofensivo. E para quem não sabe, esse personagem só se transforma quando está com raiva. Então um monstro gigante vem para cima deles e o Capitão América diz: “Dr. Banner, agora seria uma ótima hora para ficar com raiva.” Nesse momento ele vai em direção ao monstro, olha para traz e diz: “Esse é meu, Capitão. Eu tô sempre com raiva.” E instantaneamente o Hulk surge de dentro dele para conter o monstro.

Esse é o espírito da coisa, é nesse ponto que precisamos chegar! Um ponto de controle onde o desejo sempre está aqui dentro, pulsando e sempre que for preciso fogo, eu deixo o calor vir para fora e incendiar a situação. Precisamos poder falar com sinceridade, assim como os apóstolos podiam: “Esse é o meu segredo, eu tô sempre com desejo!”

 

A Autoignição e a Samaritana

Esse processo exige bastante esforço, mas vale a pena. Quando aquela samaritana que perambula sob o sol do meio-dia encontra com Jesus no poço, sua vida está inundada de profunda tristeza e desanimo. Mas o Senhor explica muitas coisas a ela e uma delas é a central para nós:

 

“Aquele que bebe desta água (a do poço)
terá sede novamente;
mas quem beber da água que lhe darei,
nunca mais terá sede.
Pois a água que eu lhe der
Tornar-se-á nele fonte de água
Jorrando para a vida eterna”.

 

Nesse momento Jesus está prometendo e explicando a Autoignição à Samaritana. Enquanto nós ficarmos bebendo das águas deste mundo, o desejo vai embora e teremos que beber de novo, mas se bebermos da água do Senhor que é a fonte e o dono do desejo, esse calor brotará para sempre em nosso coração, tornando-se uma fonte que vai jorrar em todos ao redor, rumo à vida eterna.

 

Testemunho

Mas ok, eu entendo que o testemunho dos apóstolos é muito elevado, então talvez seja proveitoso usar o meu próprio testemunho para mostrar que é possível. Isso já aconteceu e está acontecendo comigo, apesar de eu ainda não chegar no nível desses homens, eu caminhei e estou caminhando para chegar num nível muito melhor do que eu mesmo já estive.

Há pouco tempo eu estava na comunidade como um peso, fazendo pouco, vivendo pouco, com depressão, ansiedade e uma falta de vontade tremenda. Pensei em sair algumas vezes, em desistir e lagar tudo, mas Graças a Deus, eu permaneci.

Então o Carisma se moveu ao meu encontro e meu deu a direção: era preciso fazer mudanças estruturais, e eu fiz duas principais que desencadearam outras. Eu terminei um namoro de 5 anos e logo em segui me mudei, saindo da casa dos meus pais. Esses dois rompimentos fizeram eu assumir a responsabilidade sobre mim mesmo e descobrir outras faces da vida. Nesse processo, aos poucos fui me fortalecendo e descobrindo um novo sabor na vida, o sabor da vida adulta.

Viver novas experiências me trouxeram até aqui, até esse texto. Algumas pessoas sempre acreditaram nas minhas potências, mas quando na vida muitos dos que convivem comigo imaginariam que de mim sairia algo assim? Bom, só pela Graça e a resposta à Graça, nada mais.

O modelo de desejo transformado é o dos apóstolos, o dos santos. Eu sou apenas um exemplo que é possível olhar para esses modelos e começar o caminho e a Graça completa o esforço.

 

É possível, é real e vale a pena! Bora corresponder à Graça!!!

 

Para se aprofundar, leia:

 

cristolibertador.com