Memórias de Infância

Jogar bola na rua de casa sempre foi para mim, um grande prazer. Correr, marcar, chutar, driblar, tocar, comemorar, são verbos corriqueiros na vida de qualquer garotinho no país do futebol. Verbos prazerosos, e comigo não foi diferente.

Eu e meus dois irmãos disputávamos a posse de bola com fervor, ainda identifico as marcas quase invisíveis de nossos embates em minhas pernas. Que saudades!

Em 1970 não existiam video-games, celulares, e o computador ainda parecia uma geladeira de frigorífico de tão grande. A diversão era na vida real. Minha mãe nos abençoava, nos exortava sempre com o mesmo sermão, e antes de acabar já estávamos peloteando pela rua.

 

Crianças sendo atacadas!

As crianças da minha época eram mais leves, menos preguiçosas, e mais criativas em sua maioria. A Revolução sexual da década de 70, estava apenas começando e seus efeitos nocivos não atingiram a minha infância. Fomos privilegiados. Pelo menos eu acho.

Hoje a infância tem sido cruelmente atacada, roubada, até mesmo das famílias mais preparadas. Pureza e inocência, virtudes essenciais e próprias dos pequeninos são destruídas pelos próprios pais logo nos primeiros anos de vida de seus filhos.

Escolas? Não preciso nem citar. Hoje a esmagadora maioria são academias de emburrecimento e bestialização. Vejo muitos reclamando da falta de vagas nos colégios, por mim poderiam faltar todas as vagas.

 

Uma bela obra de arte

Voltando às memórias maravilhosas, porque escola é uma coisa que me deixa nervoso desde aquela época, lembro da roupa de missa que eu usava, do kichute que dividia com meus irmãos, dos tampões dos dedos arrancados, das vidraças e plantas quebradas pela falta de pontaria, de correrias, de escondimentos, de risos e de choros. Todos compondo uma obra de arte belíssima, de cores vivas e vibrantes.

Hoje com a limitação de minhas pernas e intensificadas pela hemodiálise, gosto ainda mais de voltar nessas memórias não com melancolia, mas como meio de alívio e de transcendência. Diz meu Senhor que o Reino é dos pequeninos e voltar a este tempo me ajuda a cultivar a alma pequena e leve dentro de mim.

 

Agraciado

Não, não trocaria os dias de hoje, pelos de outrora. Aquele tempo passou e amo quem sou hoje, e hoje tenho a consciência de quão agraciado sou e fui na minha infância. Essa consciência vale ouro. Revisitar as lembranças boas reaviva em mim o amor de Deus. Como fui e sou amado. Como fui e sou sustentado pelo Pai do céu.

Oro pelos meus dois netos, e para os filhos de meus irmãos de comunidade para que vivam sua infância de maneira abundante como vivi, e para minha filha e meus irmãos em Cristo para que sejam bons pais, de modo que na velhice cada criança interior possa permanecer viva, como a minha permanece até hoje!

 

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