A vingança não vale a pena

Em 1976 começava a realizar um grande sonho, integrar o Exército do Brasil. Neste ano me alistei, e tive a graça de ser aceito, iniciando meus serviços em 1977. Estava realizado e me sentindo o homem mais forte deste mundo. Afinal, chegou o tempo de eu mostrar o meu valor e poder contribuir de alguma forma para o crescimento do meu país. Pena que distraído acabei eu mesmo com o sonho que tanto busquei.

Meus pais já haviam se separado há algum tempo, vivia com minha mãe e tinha sido criado por meu irmão mais velho. Éramos em três, um cuidava do outro, fomos pais logo cedo. Agora na época do exército sentia, finalmente, a liberdade e o autocontrole virem para minhas mãos. Além disso, era a chance de eu construir com minha carreira um futuro melhor para minha mãe.

 

O Batalhão

               Tinha sido admitido no 4º Batalhão de Infantaria Blindado, localizado na Carapicuíba, em São Paulo. Amava estar naquele lugar, e apesar da disciplina dura, e o tratamento severo que recebíamos, sentia que toda a ausência de um pai, estava sendo suprida por cada ensinamento que recebia naquele lugar.

Fiz amigos em meu batalhão, e a sensação é que havia encontrado a causa pela qual dar a minha vida. Aprendi a manusear armamentos leves e pesados, o neném aqui não é mole não. Mas nada é comparado a se dirigir um blindado. Nunca fui ganancioso ou daqueles fanáticos por poder, mas que estar a frente destas máquinas ajuda e insuflar o ego de um homem, isso ajuda muito. Recomendo esta experiência todos os jovens de hoje em dia.

Não tenho dúvidas de que a grande campanha para manchar a imagem do exército ao longo das décadas, faz parte de um plano diabólico de desestabilização mundial das nações independentes, e mais uma artimanha maquiavélica que deseja transformar o homem pós-moderno em um “banana de pijamas”. Se todo rapaz deste Brasilzão prestasse serviço militar, teríamos outro destino, seriamos uma potência.

 

   

A queda

Porém, nem tudo eram flores, em meados de 1979 um amigo do meu Batalhão, o Ivan, acabou se envolvendo numa briga, no seu dia de folga. Acabou saindo muito machucado, o que deixou geral no batalhão muito aborrecido e indignado. Logo, como faísca em barril de pólvora a ideia de vingança e de lavar a honra do irmão, se alastrou.

Sabíamos do risco que era revidar a agressão, podíamos perder a oportunidade de nossas vidas e sermos até presos. Éramos homens, mas não maduros e acabamos atendendo a tentação que nos visitara. Partimos para a emboscada. A paisana e com rota de fuga planejada, fomos até o bar na rua da consolação onde os alunos do Mackenzie costumavam ficar, e lá tentamos dialogar com o agressor de nosso companheiro.

O pau quebrou, literalmente. A verdade é que diálogo era a última coisa que desejávamos, queríamos mesmo era lavar a honra. O Bar ficou quase destruído e nossos inimigos também. Fugimos em direção à Barra Funda, pois se aparecêssemos no Centro da Cidade seriamos pegos pelos PE’s de plantão naquela área. Tudo deu certo, pelo menos era o que achávamos.

Infelizmente alguns dias depois fomos surpreendidos em nosso quartel, por um destacamento da polícia, com um de nossos amigos que era de outro batalhão. Ele havia desobedecido nosso combinado e fugiu para o centro da cidade, sendo pego e delatando a todos nós. Não fomos presos e nem castigados, mas infelizmente o sonho de seguir carreira acabou. Nossa ficha ficou suja. Todos nós tivemos que escolher ficar ou sair, mas mesmo que ficássemos somente poderíamos permanecer até o final do ano. Eu decidi sair, uma tristeza grande, fruto de uma frustração gigante.

 

A vingança nunca é plena

De fato, hoje eu sei que lavar a honra com a dor e o sangue alheio, mesmo dos inimigos não é o melhor caminho, traz danos ainda maiores, envenena a alma. Se tivesse conhecido Jesus mais cedo, creio que tudo teria sido diferente. Amar os inimigos e orar para que se convertam é uma tarefa dificílima e exige uma hombridade imensa. Muito mais fácil é eliminar quem vos persegue, do que suportar a perseguição e retribuí-la com amor, como o Cristo o fez.

A vida seguiu, e apesar dos pesares trago em minhas memórias ensinamentos humanos essenciais que recebi no exército, lá aprendi a dar a vida pelos amigos, da maneira errada, mas aprendi. Hoje sendo do exército do Nazareno sei como, onde e quando dar a vida pelos amigos. Lá aprendi que a palavra de um homem deve ser sustentada e vale muito, com Jesus aprendi que a Palavra de Deus vale mais e sustenta muito mais. Como bom infante, seguimos!

 

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