Dia de São Tomé é dia de lembrarmos o quão agraciados somos por termos a oportunidade de crer sem ver. Também é dia que uma multidão de desavisados e ignorantes na fé, como eu e você recordam que este discípulo duvidou da ressurreição de Jesus, quis ver para crer, quis tocar. Logo de cara me pergunto e te pergunto, somos melhores que Tomé? Claro que não. Na maioria das vezes e casos somos é bem piores.
Temos o privilégio de ver a história e nascer em um tempo onde a revelação do verbo já está muito consolidada do ponto de vista racional. Temos explicações e muitos testemunhos de santos e mais santos ao longo dos últimos dois mil anos, que nos colocam em posição superior para compreendermos o mistério da ressurreição, em relação aos primeiros. Pensando nisso a pergunta é: quem de fato merece o mérito de ter crido? Eu cheio de privilégios, ou os apóstolos de berço judaico tendo que compreender enquanto viviam a realização dos mistérios?
Somos agraciados!
De fato, para mim não há duvidas de que somos agraciados e isso nos exige resposta mais rápida e firme. Tomé demorou oito dias para crer, eu e você demoramos quantos anos? Tomé tocou uma vez nas feridas de Cristo e creu, e nós? Quantas vezes já tocamos Nele e fomos tocados por Ele, e seguimos claudicando com as três pernas? Algumas vezes nem sequer mancamos, rastejamos mesmo, isso é ridículo.
Hoje em dia com o acesso a várias homilias e textos inspirados pelo Espírito em homens sábios da Patrística e de nosso tempo, sabemos que São Tomé, deu um salto de fé. Sim, Ele não cria na ressurreição do Homem Jesus, porém ao tocar no corpo santo de Cristo, Ele passa a crer no Deus Jesus que ninguém jamais viu ou sequer tocou. É como não crer na invenção do automóvel e ao ver um fusca passar a acreditar nos aviões supersônicos.
Será mesmo que Tomé é o homem da descrença? Ou como tantos conhecimentos sobre homens santíssimos, caímos em uma falácia para que não vejamos que os verdadeiros descrentes e tíbios somos nós?
As chagas do nosso carisma
Meu orientador espiritual Dom Bruno OSB, me lembrava esta manhã através de sua breve homilia, de que todos podemos fazer a experiência de Tomé, e sairmos da incredulidade. Todas as vezes que tocamos nas feridas do mundo, dos irmãos marginalizados e pobres, dos encarcerados, prostituídos, flagelados por guerras, enfermos em estado terminal, violências, abusos de poder e tantas outras enfermidades, tocamos no próprio Cristo. “Quantas chagas não marcam mãos e lados de tantos irmãos nossos?” (Dom Bruno).
Neste carisma não é diferente. Fomos convidados a tocas nas chagas das meninas em conflito com a lei, privadas de sua liberdade, fadadas ao tráfico e a prostituição, para que através deste toque pudéssemos ver o Cristo Glorioso Transfigurado em nossa frente. Ao tocar nestas meninas podemos fazer a mesma experiência de Tomé, partirmos da incredulidade no homem, para a credulidade em Deus.
Tocamos nelas chagadas e nos encontramos com o Deus Vivo. Neste toque somem de nossas mentes as idolatrias, os pecados, as impossibilidades, e passamos a existir. É como se esta chaga de amor nos ofertasse a existência. Encontramos nossa razão de ser, o sentido de nossas vidas.
Batismo de amor
Não gosto de pensar com o “e se”, mas me dando este direito nesta manhã reflito que SE Tomé não tivesse tocado nas chagas de Cristo sua fé em Deus não teria desabrochado, assim como se eu não tivesse tocado nas chagas destas meninas minha fé no Libertador não teria desabrochado.
O nome disso é batismo de amor. Não era mais sobre a ressurreição de um homem, era sobre a fé em um Deus. Não é mais sobre meninas marginalizadas é sobre o filho do Deus vivo. Não é sobre mim ou você, não é nem sobre Tomé, Pedro, Tiago ou Elias, é tudo sobre Ele! Nele podemos existir. Nele somos santificados. Nele somos amados. Em suas santas chagas podemos habitar como Tomé habitou!
Nestas chagas não há perguntas, e nem respostas, só a certezas, só há amor!
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