Ainda existem profetas?

Tenho escutado muito nos últimos dias a afirmação de que hoje em dia não existem mais profetas, e isso tem me gerado uma inquietude profunda na alma, a ponto de serem levantados muitos questionamentos em meu coração.

 Será mesmo que não existem mais profetas? Se existem, onde estão? Por quê antigamente o profetismo era mais eficaz do que nos dias atuais? Não somos todos profetas? Perguntas e mais perguntas. Elegi algumas que me ajudaram a refletir e que parecem me apontar um caminho profético para uma vida profética, e um ministério profético.

Todos os batizados são profetas?

Sim, todo batizado é um profeta, afinal no batismo recebemos o Espírito Santo, e passamos a ser morada Dele. Ele é quem falou pelos profetas no Antigo Testamento, e também no Novo Testamento, e sem sombra de dúvida quer falar conosco, e através de nós. Na teologia Católica Sacramental aprendemos que no batismo recebemos o tríplice múnus ou tríplice chamado à santidade – régio, sacerdotal e profético – ou seja, recebemos o dever, a obrigação (múnus significa dever, obrigação de um determinado grupo) que compete aos filhos de Deus de nos assemelharmos à Jesus Cristo, que é rei, sacerdote e profeta. 

Juntamente com o dever de cumprirmos estes três papéis, o doador dos dons (O Espírito Santo) nos favorece generosamente e gratuitamente com muitos carismas (dons para santificação própria e de serviço para o bem da Igreja) e virtudes infusas, que no momento certo de nossas vidas poderão ser acessadas, e também nos acessar, segundo a vontade do Espírito e nossa corroboração, para que desempenhemos bem nossas obrigações, que agora constituem a nossa mais profunda identidade, sermos filhos adotivos de Deus, e irmãos de nosso Senhor Jesus Cristo, e precisamos ser santos como Ele é santo (1Pd 1,15-16)!

Como ser profeta segundo o meu batismo?

Sem enrolar, vamos direto ao que nos ensina a Igreja:

“Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja: por eles, a Igreja é o princípio vital da sociedade. Por isso, eles, sobretudo, devem ter uma consciência cada vez mais clara, não somente de que pertencem à Igreja, mas de que são Igreja (CIC, 899).

“O laicato age de modo profético quando dizem a verdade, e vivem o Evangelho, dando exemplo para suas famílias, vizinhos e colegas de trabalho. A missão deles é “realizada nas circunstâncias ordinárias do mundo” (CIC, 905).

Só mais um reforço, o profeta ungido por Deus com seu santo Espírito, precisa proclamar a verdade com sua vida. Nisto fica claro que o testemunho é a proclamação mais perfeita que podemos exercer, muito mais eficaz do que a palavra em si é a vida que fala. Padre Antônio Vieira em seu famoso sermão da Sexagésima ensina “O cristão deve pregar com as mãos” – e não pode ser qualquer testemunho, tem que ser o da verdade expressa no evangelho. Não somos relativistas. Somos cristãos e temos que viver a radicalidade (raiz) do Evangelho de Jesus Cristo nos dias de hoje, e ponto.

Por que no tempo de Jesus os profetas pareciam mais profetas, e em maior quantidade?

Aqui vai uma reflexão minha, com base em observações e percepções deste miserável que vos fala. Penso nas seguintes justificativas para esta impressão, que para mim é apenas uma impressão, e não uma verdade.

  1. Na época do Antigo e do Novo Testamento a população de Israel era muito menor do que a população do Brasil por exemplo, isso sem comparar com a Mundial, o que só acentuaria essa diferença. Portanto, proporcionalmente o número de profetas me parece ser semelhante, isso se pudéssemos os contar hoje.
  2. Os relatos bíblicos estão consolidados, e amplamente difundidos (pelo menos deveriam) o que favorece o acesso de todos, à vida de determinado profeta.
  3. Assim como Elias teve a impressão de estar sozinho em meio à uma nação idólatra (1Rs 19,10), nós também temos esta sensação, mas como o Senhor quebrou as pernas de Elias dizendo que havia em Israel, sete mil homens que não haviam se dobrado à Baal (1Rs 19,18), Ele também quebra a nossa, nos lembrando que não somos a última bolacha do pacote, e precisamos sair da depressão e viver, afinal, Ele é conosco e nos levantou para determinada missão.
  4. Antigamente existiam somente dois lados: Os idólatras X Os fiéis ao Senhor. Hoje existem vários lados, várias posições dentro da própria Igreja, e os assuntos parecem ter se tornado um pouquinho mais complexos, e são muito mais distorcidos. Isso dificulta muito enxergarmos quem de fato é o profeta. Afinal, muitas vezes não sabemos nem qual é a verdade de fato, tão velada e diabólica são algumas questões. A saída é a iluminação do Evangelho, não perca ele de vista nunca.

Eu teria mais alguns pensamentos para argumentar, mas penso serem estes quatros os mais relevantes: 1º Proporção; 2º Consolidação Histórica; 3º Soberba disfarçada de desânimo; 4º Múltiplas posições e Relativismo; 

Resumindo, existem profetas sim. Conhecemos muitos! E um tanto de outros não conhecemos, ainda! Não vou citar os que eu conheço, todavia, registro aqui que no meio do laicato católico (especialmente dentro das Novas Comunidades como a nossa), e também no meio do clero estão se levantando homens e mulheres fiéis à Jesus Cristo, ao Seu evangelho e à Sua Igreja. Estejamos atentos.

O caminho profético para uma vida, e um ministério proféticos!

Lembrei-me de que antigamente existiam as escolas de profetas por toda a antiga Israel (você acha material sobre este assunto nos livros de Samuel e Reis nas Sagradas Escrituras) e como estas instituições arcaicas trabalhavam para formar homens que cumprissem esta missão tão crucial de anunciar e denunciar, segundo a vontade de Deus.

Para mim está claro, em um mundo globalizado como o que vivemos hoje só há uma alternativa, se nossas famílias, escolas, e se nossa Igreja for um celeiro de profetas e profetisas. Não dá mais para contar com uma andorinha aqui e ali, é necessário que todos nós nos mobilizemos já, para fazer o verão. O Sol da Justiça nos elegeu, nos consagrou, meteu em nós seu poderoso Espírito, e está levantando neste tempo, nesta nova primavera da Igreja carismas e mais carismas, famílias inteiras consagradas, para testemunharmos que Ele, este Sol, que Jesus Cristo é o Senhor e Salvador do universo, e que esta é a verdade!

Homens santos.

Mulheres santas.

Filhos e filhas santas.

Famílias santas.

Comunidades santas.

Uma só Igreja. Um só Espírito. Um só Deus. Um só coração. Uma só santidade.

Já. Eu sou profeta, e lutarei para formar outros. E você?

Referências bibliográficas

Catecismo da Igreja Católica Apostólica Romana – Batismo – Parágrafos 1210-1419;

http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap1_1210-1419_po.html

Sacerdote, Profeta e Rei – Quem, eu?

https://www.blog.youcat.org.br/2019/02/07/sacerdote-profeta-e-rei-quem-eu/

Catecismo da Igreja Católica Apostólica Romana – Dons do Espírito Santo – Parágrafos 1210-1419;

 

Leia mais:

Um profeta se sustenta na palavra 

Como está o seu altar?