A Frustração de Judas

Uma mística italiana, Maria Valtorta, em uma de suas visões relata:

“Um de vós vai me trair”, disse Jesus. Pedro, que ouve de longe, pede para João perguntar a Jesus, o que significa isso? Então Jesus fala a João, mas Pedro não escuta.

Para o ritual judaico, quem recebe o pão molhado no vinho, é um convidado de honra, portanto Jesus e o Pai ama o mais miserável, o mais problemático, por isso, dá o pão para Judas.

Se João estava à direita, Judas estava à esquerda de Jesus, ele poderia receber o pão somente se estivesse próximo Dele. Este Pão significa o corpo de Jesus, que se entrega livremente, mesmo diante de um traidor. A italiana ainda diz que Jesus fala para Judas, antes dele sair da sala na última ceia: “Eu volto ao mundo e morro apenas por você, se você se arrepender!

Mas Judas já não podia voltar atrás, pois estava sob o influxo do inferno, Satanás já tinha entrado nele. Essa história sempre me intriga bastante, e mais uma vez ele está aqui na minha quaresma. Já sabemos do desfecho, mas ele esperava um rei revolucionário. Judas vai se decepcionando aos poucos com Jesus, o beijo é o ápice.

 

O que é uma frustração?

  1. estado de um indivíduo quando impedido por outrem ou por si mesmo de atingir a satisfação de uma exigência pulsional.

 

É muito triste vermos alguém que é a própria frustração, parece exagero, mas não precisamos ir muito longe para achar. Pessoas tristes, que se arrependem de não terem feito várias coisas em sua vida, não terem realizado sonhos quando estavam na idade de realizar, de pequenos desejos que são importantes para uma vida saudável e feliz.

Lamentável dizer isso, mas todos nós, sem exceção, enquanto estivermos nesta terra estamos propensos a termos um final bem semelhante ao de Judas e sermos reconhecidos como traidores e suicidas, conhecidos pelo demônio que entrou em nosso coração, e não pelo Pai que espera ansiosamente pela nossa chegada ao céu.

Muitas frustrações não resolvidas no caminho de discipulado só nos levam para um lugar, no Sinédrio, aceitando as 30 moedas em troca do “dito” Filho de Deus.

Enquanto não aprendermos a lidar e voltar atrás, refazer aquilo que dá para ser refeito, agradecer pelo tempo presente e o que já não tem mais volta, ser purificado pelo sangue do Cordeiro, o nosso caminho será superficial e detestável.

 

Por favor, sinceridade!

Eu sei que o “se” não é de Deus, mas e se Judas tivesse falado pra Jesus as expectativas que tinha criado a respeito do Messias, e de como Jesus não cumpriu cada uma delas. E se Judas tivesse dito que seu coração estava fraco, cambaleando, sem desejo e que já não tinha o amor de outrora.

Judas esperava que Jesus destruísse o império romano, e por mais que Ele tenha explicado algumas vezes que esse não era o objetivo da Sua encarnação, o apóstolo não conseguia entender.

Sim, meus irmãos. Judas amou Jesus, pois ele viveu aquilo que os outros apóstolos também viveram, ele viu milagres, curas, libertações, sermões e mais ainda, ele foi enviado, curou e falou sobre o Messias para o povo. Ele tinha tudo para ter cumprido sua missão de coluna da Igreja e assim ser um grande santo, como seus irmãos de ministério.

Obviamente nossas frustrações podem ser fruto do nosso pecado, nosso desejo por sermos vistos e não correspondidos a altura que nossa “grandeza” merece, mas ainda sim, se não sermos bem sinceros com Jesus e estarmos dispostos a ouvir de sua boca os próximos passos, viveremos uma vida frustrada.

 

A vida é curta

E a de Judas foi mais curta ainda, por mais que seja um clichê, é bem real. A vida é muito curta para não fazermos a vontade de Deus, que nos traz paz e alegria, de verdade. Não podemos nos dar ao luxo de contar com o amanhã, para amá-Lo só temos o hoje!

Prefiro ser o filho pródigo que volta, ao filho que não foi capaz de viver e depois ter tido a experiência com a misericórdia. Vejam, não estou falando que é melhor ir pra uma vida de orgia e bagunça, mas estou falando que é preferível realizar desejos lícitos fora da “curva” do que não ter tido a coragem de viver, de fato.

Que possamos ter Judas como exemplo, do que não fazer, e assim cumprirmos nosso discipulado e apostolado com maior desejo e amor.

Ainda estamos no tempo de conversão. Uma santa quaresma a todos!

 

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