A maciez de Teresa

Teresa via a vida de uma forma diferente, por vezes romântica demais, por vezes fantasiosa demais. No entanto, o olhar dela para os acontecimentos da infância, as dúvidas da adolescência e a dureza da vida adulta sempre foram motivos de profundas reflexões. Tudo para ela era muito profundo, característica típica de seu temperamento.

Claro que no começo, de forma destemperada, escrupulosa e exagerada. E é por isso que muitas pessoas não conseguem ler o História de Uma Alma até o fim, admito que mais parece aqueles romances medievais entediantes. Sou suspeita para falar, mas esse livro mudou minha visão sobre muitos aspectos, mas não o recomendaria por primeiro para quem deseja conhecê-la.

 

De onde vem essa tal de maciez?

Um dos significados do meu nome é macia e jovem (quem rir são 10 mil anos a mais no purgatório), a primeira vez que li fiz que nem Isabel quando ouviu que ia ficar grávida. Diante de tantos significados, adjetivos e traduções o meu é logo esse, que chega a ser um tanto quanto engraçado.

Lembrei-me agora daquele famoso vídeo de Chaplin, trabalhando em uma fábrica tudo em preto e branco. Ele faz suas brincadeiras diante de um trabalho monótono e repetitivo, mas é como se eu fosse daquele jeito, aquela fábrica e aquela cor. Praticidade, sem enrolação e pouco romantismo. Não estou falando que são características ruins, mas desordenadamente, se torna ruim.

O jeito de Teresa receber e agir diante da vida é muito diferente do meu, e é por isso que com ela aprendo ser mais “macia”, que também poderíamos usar os adjetivos: terna, dócil, mansa e delicada. Claro que, de forma alguma, me tornarei como aquele desenho dos ursinhos carinhosos (nada contra quem é assim), mas meu baluarte é profeta.

Mas sim, manso como Elias, que debaixo daquele homem forte e firme foi capaz de, ao ser alimentado pelo pão dos anjos, mudar seu estado de ânimo quase que repentinamente. Alguém que quando olha para a verdade é capaz de mudar suas certezas mais intrínsecas e se converter, sem grandes insistências da graça.

 

Romantizar tudo é errado?

Vejamos um dos significados de romântico: “Que, nas ideias, no caráter ou no temperamento, revela algo de apaixonado, de nobre, de lírico, que o eleva acima do prosaico, do cotidiano.”

Vejam, drama é bem diferente de romantismo. Cuidado! Não vai entrar em um eterno vale de lágrimas ou no junípero, só para dizer pra si mesmo que é dócil. Então não, falar ou escrever de Jesus de forma mais “lírica” não é errado, errado é ir para os extremos.

Portanto é essa simplicidade, leveza, docilidade e romantismo que sua alma estava impregnada. Quando leio o manuscrito C, relato derradeiro da morte de Teresa, ou alguém comentando sobre esses textos, meu coração se enche de entusiasmo é quase como se estivesse lendo a vida de um herói, um guerreiro, que morreu gloriosamente.

Mas “só” estou lendo a vida de uma freira francesa, vinda da burguesia e carmelita enclausurada, que de grande “só” tinha seu amor por Jesus. De fato, existem momentos heroicos em sua vida, mas também era bem entronizada na realidade, portanto não vivia uma fantasia dos livros. Até porque, Deus mesmo quis que o caminho de santificação dela  fosse bem escasso de misticismo.

 

 

Sejamos manso e humilde de coração…

Teresa vivia a concretização do amor a Jesus Cristo, seja na alegria ou na tristeza. Mesmo diante dos seus desertos espirituais, levava a maciez consigo e para os seus. Vai muito além do modo como ela falava com os outros e com Deus, não consigo imaginar ela se quer dando uma resposta petulante para alguém. No entanto, mais do que isso, ela só poderia falar daquilo que seu coração estava cheio.

De fato, para alguns tipos de pessoas é muito fácil ser ríspida com as outras. É quase que uma característica pessoal, mas isso não é uma virtude, isso não nos aproxima do coração manso de Cristo. Até mesmo quando penso em Paulo, por exemplo, não o vejo sendo duro de coração, inflexível ou bruto demais.

Que possamos rezar com profundidade aquela jaculatória bastante conhecida: “Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso!”. Ela precisa se tornar uma verdade para nós, a ponto de nos configurar ao coração dulcíssimo de Cristo.

 

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