Um Desejo Incompreendido.

Tinha um negócio no meu peito, um grito amarrado entre o esôfago e as amídalas, e eu só conseguia pensar em como isso tinha vindo parar aqui.
Me lembrei dos tempos da infância quando esse grito dizia “quero brincar”, depois caminhei até a adolescência na qual gritava “quero experimentar tudo isso.”
Mas naquele momento estava estranho, não era mais como antes. O grito entalado era outro e eu sabia que só conseguiria desatá-lo quando o desvendasse.

Tinha as mãos abertas para o mundo e infinitas possibilidades, mas tateava como cego pelas opções, das quais algumas provei e nada encontrei.“Para tudo!” – Momento de expectativa – “Será que é isso?” Foi o que pensei quando vi aquele anúncio de viagem para fora do Brasil com um ótimo preço.
“Para tudo!” – Momento de expectativa – “Será que é isso?” Foi o que pensei quando me contrataram para o meu cargo dos sonhos na empresa dos sonhos.
“Para tudo!” – Momento de expectativa – “Será que é isso?” Foi o que pensei em tantos outros momentos.
Spoiler Alert: Nunca era.

Claro que depois eu fui perceber que muitas dessas coisas faziam parte, mas nenhuma conseguia me explicar que coisa era aquela.

Eu não sei, um negócio que subia do estômago como um enjoo, passava pelo peito como um aperto e ao mesmo tempo descia da cabeça como uma descarga elétrica.
Não é possível… Eu tinha que ir ao médico.
Me sentei na frente do doutor e fui falando dos sintomas enquanto ele, com olhar sereno, me ouvia e acenava com a cabeça.

Ao final dos relatos perguntei se ele iria se lembrar de tudo, já que não tinha anotado nada e obtive a resposta – “meu filho, todos os dias alguém entra pela porta desse consultório com a mesma coisa que você.” E continuou: “as histórias são diferentes, alguns sintomas também, mas no final das contas, a questão é a mesma.”
E então tudo se encaixou perfeitamente. Era isso!!! Aquele homem me falou de tudo que eu tinha feito. E tudo o que fiz foi em busca de um desejo que eu não entendia.

Eu desejava pela liberdade. Mas não entendia o que era ela de fato. Então o doutor me receitou alguns remédios, me recomendou à sua enfermeira (que também era sua esposa) para que ela montasse um calendário para me lembrar de tomá-los e me mandou para casa.
Sempre mandava um WhatsApp pra ele e nós íamos atualizando os tratamentos. (Ainda faço isso)
“Aaaaaaaaaaah, eu desejo ser livre!”

Hoje eu posso gritar com verdade esse desejo! E não só gritar como dar passos de liberdade.
Agradeço muito por ter ido ao médico certo. Vejo e conheço muitas pessoas que só estão piorando os seus quadros porque buscam um médico mais barato.

Espero que esse não seja o teu caso.

 

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