Aqui na comunidade temos um caminho de no mínimo 8 anos até chegar na consagração definitiva. Você pode olhar para todo esse tempo e achar que é muito, eu também achava. Mas, confesso que hoje não faz diferença, pois já posso viver hoje a minha consagração.
O já e o ainda não
Costumamos dizer que vivemos um tempo de “já”, porém “ainda não”. Já consagrados hoje, porém ainda não, pois o seremos oficialmente daqui alguns anos.
A grande questão é que quem quer ser consagrado, já é. O momento da cerimônia da minha consagração só testifica diante de uma autoridade (fundador), da Igreja (bispos e padres) e de Deus aquilo que já desejo e busco viver.
Podemos fazer uma comparação com o matrimônio. Quando vamos casar fazemos três afirmações no altar: de receber todos os filhos que o Senhor nos confiar, de educá-los na fé católica, do casamento ser de livre e de espontânea vontade e para sempre. Porém, se tudo isso não for buscado no tempo de namoro/noivado, não acontecerá um passo de mágica no altar. Afinal, se eu vou prometer tudo isso, pelo menos o desejo e a busca já precisam ser verdades em meu coração.
Claro que durante o namoro não vou receber todos os filhos, afinal, isso será próprio do casamento, mas lá no altar vou prometer que os receberei, logo, precisa existir esse caminho dentro da minha vida.
A graça especial
Pensando assim, podemos cair na relativização da consagração definitiva. E essa relativização se dá de duas formas:
- Já que precisamos viver isso antes da consagração em si, então não faz diferença viver ele.
- Olhamos para pessoas que fizeram as promessas definitivas e deixaram-na e podemos pensar. Que diferença fará esses votos se eles são deixados?
Vamos lá, falaremos desses dois pontos.
Primeiro, a cerimônia de consagração é especial e essencial, não pode ser descartada. Há graças que são reservadas para recebermos apenas nesse momento, graças pontuais e particulares, mas a própria graça da consagração total. O que faltava se completa ali, afinal, somos sustentados pela graça. Muitas vezes em nossas vidas, podemos caminhar até certo ponto, com a graça de Deus, e outros avanços só Deus pode nos conceder.
Por exemplo, sabia que Santa Faustina já tinha vivido um caminho sério de conversão até seus votos perpétuos? Já era uma santa! Mas a partir dele é que ela consegue ter maior clareza em relação a missão de propagar a misericórdia.
Esse dia é santo e especial, marcante em nossas vidas. Até mais marcante que tantas datas especiais que trazemos em nossas listas, como por exemplo o nascimento dos nossos filhos, o dia do nosso casamento.
Ele não é indispensável, ele é um marco oficial em nossas histórias. Um dia memorável que poderemos dizer como no salmo:
“O Senhor se lembra sempre da aliança”
(Sl 104)
Onde esse voto começou?
Se voltarmos em nossa essência, encontraremos esse voto feito por Deus a Abrãao, Isac, Israel. Desde todo sempre, Ele nos lembrando que fez um voto eterno conosco.
É isso que rezamos todos os dias quando fazemos a oração de Santo Elias, que nos lembra da eterna aliança com Deus:
“Ó Senhor, Deus de Abrãao, Isac, Israel, MEU DEUS, saibam todos hoje que sois o Deus de Israel e desta comunidade, que eu sou teu servo e que por vossa ordem fiz e continuarei fazendo todas essas coisas, responde-me Senhor, para que todo povo reconheça que só vós sois Deus e só vos que converteis todos os corações”
Quando eu fazia alguns questionamentos a Deus sobre a consagração definitiva, o Senhor me fazia lembrar dessa oração e me dizia: “Desde esse dia eu já fiz um voto definitivo com você. Aqui está o seu consagração definitiva”
Deus não fará um voto definitivo conosco no dia da nossa consagração, Ele já fez esse voto desde todo sempre e não se cansa de nos mostrar que não voltou atrás, que ainda Ele nos deseja, que o Seu voto ainda está de pé. Porém, as duas partes desse contrato de salvação precisam assinar o “de acordo”, e em nossa consagração assinamos o “de acordo” com essa aliança eterna.
Se é definitivo, por que o deixamos?
Aqui entra no segundo questionamento que eu fazia a Deus. A consagração mudou então?
Não, a consagração permanece a mesma, pois o meu sim não é o autor da promessa. O autor da promessa é o sim de Deus, e ainda que muitos digam não, por conta do Seu “SIM”, A Palavra nunca mudará!
Ainda que muitos deixem a consagração, mesmo depois de suas promessas definitivas, o nosso olhar deve estar Naquele que não muda. Não volta atrás, todas as escolhas do Senhor são eternas, por isso que quando o escolhemos, precisamos fazer também escolhas eternas.
Logo que comecei rezar com isso, eu estava escutando a música: “Promises” do Maverick City, e ele fala exatamente isso:
Deus de Abraão
Você é o Deus da Aliança
E de promessas fiéis
E outra vez
Você provou
Você fará exatamente o que disse
Embora as tempestades possam vir
E os ventos podem soprar
Eu permanecerei firme
E deixarei meu coração aprender
Quando você fala uma palavra, isso vai acontecer
Deus de uma era para outra
Embora a terra possa passar
Sua palavra permanece a mesma
Nós podemos deixar a promessa, Ele nunca deixará! Isso nunca mudará! E é aqui que precisa estar alicerçada a nossa fé, o nosso sim. Assim como a mesma música vai cantar:
“Coloquei minha fé em Jesus
Minha âncora no chão
Minha esperança e firme alicerce
Ele nunca vai me decepcionar”
Caminhe e verás
Santa Faustina fala que desde os seus 7 anos Deus já tinha a chamado.
“O definitivo chamado de Deus, a graça da vocação para a vida religiosa, eu senti desde os sete anos de idade”
(Diário de Santa Faustina 7)
Prestemos atenção na riqueza das palavras: O DEFINITIVO chamado de Deus. Ela só realizou seus votos perpétuos 21 anos depois, porém já era um chamado definitivo que ela escutava.
Talvez, durante o nosso caminho não compreendamos a tamanha dimensão em que consiste esse definitivo chamado e por isso que é importante o caminho formativo, para que Deus nos forme a darmos o melhor sim possível para a nossa consagração.
E quando eu esmorecer no caminho? Posso dizer o que eu faço, eu sempre olho para aqueles que ainda permanecem fiéis e firmes em sua consagração definitiva. Me lembro de fundadores que conheço e que já estão a anos fazendo as mesmas escolhas, doando sua vida pelo Evangelho e para cumprir a vontade de Deus por meio da fundação dessa obra. Olho para consagrados que permaneceram, mesmo diante das tribulações e dificuldade.
Viva o definitivo hoje
Se você soubesse que teria apenas mais 5 anos dentro da comunidade, como você viveria hoje?
Sabia que Santa Faustina viveu apenas 5 anos após seus votos perpétuos? Mas como eu posso dizer que essa mulher viveu pouco tempo consagrada?
Não dá para dizer por conta que ela viveu uma vida de consagração, e mesmo assim, valorizando e desejando muito o dia dos seus votos perpétuos. Ela conta com muita emoção e gratidão sobre o seu tempo de preparação para esse grande dia, narra de maneira detalhada o que seu bispo disse na cerimônia.
De fato, não foi um dia comum, foi um dia extraordinário que testemunhavam todos os outros dias comuns que ela viveu como consagrada, permanecendo em seus votos, permanecendo na Palavra.
Alguns de nós já chegaram nesse grande dia extraordinário, e muito mais chegarão. Vivamos hoje esse definitivo, pois a promessa de Deus é definitiva para nós!
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