Santa Faustina fala em seu diário muitas vezes sobre o sacrifício de si mesma, isto é, o sacrifício que o Senhor a inspirava fazer pela conversão das almas. De maneira especial, em nosso carisma, desejamos fazer esse sacrifício pela conversão das meninas que acolhemos que saíram da Fundação CASA, que chamamos de educandas.
O sacrifício é meu
Quem pode mudar a conduta sempre somos nós primeiros. Por exemplo, se há uma dificuldade em seu matrimônio, as mudanças a serem realizadas precisam partir primeiro de você que está lendo isso, pois seu marido ou esposa podem não ler. A mudança cabe àquele que ouviu, experimentou primeiro.
Vejamos no Evangelho, quando Jesus vai curar a sogra de Pedro. Pedro conheceu primeiro a Jesus, com certeza falou sobre a sua sogra, a vida de Pedro havia mudado e podia ser testemunhada por aqueles que estavam mais próximos, antes ele era o pescador, agora ele tinha deixado tudo para seguir Jesus.
Tantos outros santos seguiram este caminho, sacrificando-se a si mesmos. Santa Monica que durante 33 anos rezou e fez penitências pela conversão do seu filho Agostinho.
Santa Rita de Cássia que rezou por tantos anos pela conversão do seu marido, e depois rezou dizendo que preferia ver seus filhos mortos do que se entregando ao pecado.
A vida dos santos nos mostram que o primeiro sacrifício é meu, pois foi o Cristo que assumiu todo o sacrifício sobre si, antes de tudo e de todos.
A quaresma é tempo de sacrifício de si mesma
Santa Faustina vivia intensamente todo o calendário litúrgico. Em dias de solenidade e festa testemunha grandes graças e experiências com Deus. Em tempos penitênciais narra momentos de profunda conversão e sacrifício.
E o que podemos ver é que na quaresma ela vive intensamente o sacrifício de si mesma, como se fosse um treinamento intenso para aquilo que precisa viver o resto da vida.
Então, é esse tempo que nos ajudará na vivência do sacrifício de nós mesmos.
Em seu diário, quando narra as experiências vividas nesse tempo, podemos ver que são divididas em:
- Abandono
- Oferecimento (a oferta é ela mesmo)
- Adoração
- Mortificação
- Obediência
Não podemos falar da quaresma de Santa Faustina sem falar desses pontos, na verdade, não podemos falar de Paixão de Cristo sem esses pontos.
Abandono
“Esta manhã, ouvi as seguintes palavras: A partir de hoje até a Pascoa não sentirás a Minha presença, mas a tua alma ficará cheia de grande saudade – e imediatamente uma grande saudade inundou a minha alma.”
(Diário de Santa Faustina 413)
“(…)Eu olho para a irmã como para uma crucificada; no entanto, reconheço nisso a mão de Jesus. A irmã seja fiel ao Senhor”
(Diário de Santa Faustina 149)
Jesus é Aquele que vive o completo abandono durante Sua Paixão e em seu abandono se abandona.
Diversas vezes, Faustina relata que se sentia abandonada e assim podia se abandonar em Deus, por meio desse movimento, podia se unir a Ele. Podíamos olhar para ela e ver uma crucificada. Que belíssimo isso!
Se na cruz é onde se manifesta o Cristo Libertador, vivendo esse carisma, preciso desejar que ao olharem para mim vejam uma crucificada.
Esse abandono nesse tempo é providente, Deus não esqueceu de nós, na verdade Ele está nos formando e nos dando um caminho profundo de união. Veja, no abandono não sou eu quem abandono as pessoas ao meu redor, deixo de dar atenção ao meu marido, meus filhos, as educandas que eu cuido, para que eles sintam isso.
Pelo contrário, sou eu quem preciso sentir esse abandono. Muitas vezes até um silêncio de Deus.
Oferecimento que dá salvação
Foi o oferecimento de Cristo na Cruz que nos deu a Salvação. A quaresma é esse tempo de oferecimento pois lembra exatamente essa sublime escolha de Jesus.
Nas minhas escolhas desse tempo, preciso ter esse olhar de oferecimento. Um jejum sem oferecimento é somente dieta, por exemplo. Em todos os gestos, por mais simples que sejam, devo oferecer a Jesus. Talvez tenha um dia que você esteja com dor de cabeça, ofereça essa dor a Jesus e pela salvação do seu marido, por exemplo, não tome o remédio, ofereça ela.
Até que chegue o ponto de nos oferecermos inteiramente, e quem se oferece inteiramente está dizendo que aceita todas as consequências desse oferecimento, mesmo se depois vierem perseguições, sofrimentos.
No Getsêmani Jesus se oferece inteiramente ao Pai, e assume tudo que vem depois.
Ato de oferecimento
“Deus e as almas — Ato de oferecimento
Diante do céu e da terra, diante de todos os coros dos anjos, diante
da Santíssima Virgem Maria, diante de todas as potestades celestes, declaro a Deus Uno e Trino que hoje, em união com Jesus Cristo, Salvador das almas, faço espontaneamente o oferecimento de mim mesma pela conversão dos pecadores, especialmente por aquelas almas que perderam a esperança na misericórdia de Deus. Esse sacrifício consiste em eu aceitar, com total submissão à vontade de Deus, todos os sofrimentos, receios e temores que oprimem os pecadores, entregando-lhes em troca todos os consolos que tenha na alma, provenientes da convivência com Deus. Numa palavra, ofereço por eles tudo: santas Missas, santas Comunhões, penitências, mortificações e orações. Não tenho medo dos golpes — dos assaltos desferidos pela justiça de Deus — porque estou unida a Jesus. Ó meu Deus, desejo, dessa maneira, desagravar-Vos por aquelas almas que não confiam na Vossa bondade. Confio, contra toda [esperança], no oceano da Vossa misericórdia. Meu Senhor e meu Deus, meu quinhão — minha herança pelos séculos — não baseio este ato de oferecimento nas minhas próprias forças, mas na força que decorre dos méritos de Jesus Cristo. Repetirei diariamente este ato de oferecimento com a oração seguinte, que Vós mesmo me ensinastes, Jesus:
“Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós!”.
Irmã Maria Faustina do Santíssimo Sacramento. Quinta-Feira Santa, durante a santa Missa, 29.03.1934.”
Adoração
A Adoração nesse tempo possui um teor especial de reparação, durante toda a quaresma, Santa Faustina buscava Jesus para adorar e reparar os pecados que o faziam sofrer.
Que possamos fazer esse exercício de honrar a Paixão de Cristo em nossa adoração, reconhecê-la em nossas vidas e na salvação do mundo inteiro, não deixemos de agradecer a Ele por esse sacrifício.
“Nos dois últimos dias antes da Quaresma, tivemos, juntamente com as educandas, uma hora de adoração reparadora. Nessas duas horas, vi Jesus tal como depois da flagelação. Uma dor tão grande oprimiu minha alma que me parecia sentir todos esses tormentos no meu próprio corpo e na minha própria alma.”
(Diário de Santa Faustina 614)
A obediência é a mortificação
Podemos juntar os dois últimos itens em um só, pois a obediência é a mortificação mais valiosa.
Em tudo Santa Faustina se submetia, até mesmo nas escolhas de sua mortificação. Por ela, gostaria de sofrer cada vez mais, porém seus superiores eram a voz de Deus que dizia os limites adequadas que ela deveria se mortificar.
Certos momentos, por conta de sua saúde fragilizada, não são permitidos grandes mortificações, ela dá exemplo que realiza pequenas coisas como: dormir sem travesseiro, rezar o terço de braços abertos como na cruz.
Além disso, há um momento que ela deseja deixar de comer, e seus superiores indicam outra prática:
“No começo da Quaresma, pedi ao meu confessor uma mortificação para este período, e recebi a mortificação de não reduzir a minha alimentação, mas, enquanto comesse — devia refletir sobre como Nosso Senhor aceitou, na cruz, vinagre com fel: esta seria a mortificação. Não sabia que tiraria tão grande proveito para a minha alma. Esse proveito é que continuamente reflito sobre a Sua dolorosa Paixão e, quando me alimento, não distingo o que como, mas estou ocupada com a morte de Meu Senhor.”
(Diário de Santa Faustina 618)
Muitas vezes queremos fazer penitências grandiosas e que não são aprovadas, ou são ajustadas por outra coisa. Louvado seja Deus por isso, nossos diretores olham para o nosso ser integral e podem nos orientar a práticas mais certeiras do que nós mesmos.
A submissão penitente
?? “Então ouvi estas palavras na alma: Receberás maior recompensa pela tua obediência e subordinação ao confessor do que pelas próprias práticas em que te exercitares. Minha filha, deves saber e proceder de acordo com isto: qualquer coisa, ainda que a mais insignificante, se tiver o selo da obediência do Meu representante — é agradável e grande aos Meus olhos.”
(Diário de Santa Faustina 933)
Hoje ganhei laranjas. Quando a irmã saiu, pensei comigo: “Agora, na santa Quaresma, devo comer laranjas, em vez de me mortificar e fazer penitência? Afinal, já estou um pouco melhor”. — Então, ouvi uma voz na alma: Minha filha, és mais agradável a Mim se, por obediência e por amor para comigo, comeres laranjas do que se, por vontade própria, jejuares e te mortificares. A alma que muito me ama deve viver segundo a Minha vontade. Eu conheço o teu coração e sei que nada o satisfará, a não ser o Meu amor.
(Diário de Santa Faustina 1023)
Aqui Jesus deixa claro que a obediência agrada mais seu coração do que milhões de penitências. Afinal, foi a obediência ao Pai e o Seu amor que impulsionou Jesus para viver sua Paixão.
Sem a obediência podemos muitas vezes esvaziar o sofrimento e viver a mortificação pela mortificação. Isso, mais cedo ou mais tarde se tornará insustentável e viveremos pesarosamente.
Por que podemos dizer que Jesus viveu sua paixão com alegria? Porque Ele não estava vivendo o sofrimento pelo sofrimento. Sua alegria não está na dor, sua alegria está em cumprir a Vontade do Pai, em plena obediência.
Com isso, podemos dizer que o sustento de nossas mortificações está na obediência, é por ela que encontraremos sentido, leveza e alegria.
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