Pai que é pai, frustra!

Ser pai por vezes é contraditório, melhor dizendo é paradoxal, vamos de herói a vilões em minutos, e nessa espiral que liga estes extremos aprendemos que só assim se pode formar filhos fortes e resilientes.

 

Deus é o paradigma

Partindo do Supremo e Perfeitíssimo Pai, o Deus e Pai de Abraão, de Isaac, de Jacó, de Jesus e de todos nós, podemos aferir algumas características essenciais para nossa própria paternidade. E uma das principais é a frustração condicionada, ou consciente.

Sim, você entendeu certinho. Deus Pai nos frustra de propósito, por conta de um propósito, a nossa santidade. Como filhos imaturos e infantis se comparados com a grandeza e sabedoria do divino Pai, não sabemos como e o que pedir e várias vezes exigimos em nossas orações, graças fora de hora ou graças que na verdade são desgraças.

 

Dois casos

No primeiro caso podemos comparar a situação à de uma criança que quer bala minutos antes da refeição, ou um danone, ou qualquer besteira dessas que tirarão completamente seu apetite, se concedidos por seus pais. A resposta correta e edificante deve ser NÃO. Talvez depois do almoço, isso se você se alimentar direito.

Deus faz o mesmo conosco, põe ordem em nossos desejos fora de hora, ordenar neste caso não é não conceder o que se pede, mas sim oferta-lo na hora correta. Essa frustração temporal, podemos chamar assim, hierarquiza as coisas, privilegiando as mais essenciais antes das menos essenciais. Sem esse “não”, os filhos perdem o apetite, e não aprendem a valorizar o que de fato alimenta, sustenta e faz crescer, ficando apenas com o prazer pelo prazer.

No segundo caso, podemos pensar no pedido descabido de uma inocente criança que deseja brincar com um instrumento cortante, ou com algo muito quente, a resposta de um bom Pai é não! Afinal, aquilo pode gerar um dano irreversível para o filho, e até a própria morte. A faca e o fogo são bens e bons, mas não para uma criança, a elas não convém o manuseio.

O Pai Onipotente, faz questão de não poder tudo que pedimos, pois como diz o apóstolo, “não sabemos pedir” (Ti 4,3). Pedimos mal, neste caso pedimos o mal. O Sumo Pai, não nos dará pois sabe que causaremos a nós mesmos danos irreversíveis e até a nossa própria morte física e espiritual.

 

O bom Pai faz falhar

Por causa desse ato consciente de Deus de “FAZER FALHAR” alguns de nossos desejos, vontades e projetos, muitos chamam Jesus de mentiroso, pois Ele disse que tudo que pedíssemos ao Pai em seu nome (nome de Jesus) seria-nos concedido (Jo 14,13-14). Quem pensa isso de Cristo se esquece de que Ele nos ensinou antes a orar pedindo apenas aquilo que nos faria santos e que agradaria ao Pai. Assim é a oração do Pai Nosso, assim são os relatos das próprias orações de Jesus.

Por fim, desconfie de uma paternidade permissiva demais, ou acolhedora demais, ou que mima demais. Ser pai não é isso. Ser Pai é ser o primeiro educador e formador de seu filho e fazer com que ele se sinta seguro, mas também que seja contrariado, para assim crescer forte, com pensamento crítico, com moral ordenada, com senso de realidade, com desejo de santidade, e pronto para enfrentar as frustrações que a vida lhe imporá sem entrar em depressão.

Fico pensando como deve ter sido a educação do Rei Acabe, que nos tempos de Elias se demonstrou manipulável, mimado, idólatra, fraco de caráter, um verdadeiro banana de pijamas. E como será que foi a educação que São José deu a Jesus? Com certeza nesta houve frustração condicionada, ou então a cruz que celebramos outro dia seria impensável.

Não queira que seu filho seja um banana, não seja um pai banana. Forme seus filhos para o céu, para a cruz, seja um pai, a exemplo de Deus Pai.

_”Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido por causa de sua entrega a Deus. Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem.” (Hb 5,7-9).

 

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