Ainda impactado com a festa da conversão de São Paulo, durante a adoração ao Santíssimo Sacramento, o Senhor me fez visitar novamente o texto de Atos 9, 1-19 no entanto, dessa vez Ele deseja me comunicar algo novo, a iniciativa do chamado é sempre d´Ele, no entanto, o investimento na intimidade é nosso, e que frutos colhemos à partir dessa intimidade?
Tudo isso parece muito óbvio, mas é impressionante como muitas vezes nos comportamos de forma contrária, ou seja, nos apresentamos a Deus como se nós fossemos os responsáveis por chama-lo, cantamos e oramos, vem Jesus, vem Espírito Santo, e quando vivemos um experiência com Ele, transferimos a responsabilidade da manutenção da intimidade, como quem diz, Jesus se não vieres a mim nunca seremos amigos!
É uma perspectiva sensível, mas precisamos aprendê-la de uma vez por todas, a fim de que nossa relação com a Trindade ganhe força, intimidade e passe a gerar os frutos necessários.
Vamos ao texto.
Dois são os personagens principais, Paulo (Saulo) e Ananias, um supostamente inimigo de Deus e outro amigo, mas o que eles possuem em comum? E as diferenças?
CHAMADO
At 9, 4 “(…) uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?”
Há um chamado, pelo nome e por voz, e uma evidência das intenções que assolavam o coração desse homem. Curioso perceber que São Lucas ao narrar esse episódio, coloca o nome do perseguidor duas vezes na boca do Senhor. Será que é coincidência? Claro que não… Duas vezes porque um coração longo da presença de Deus é distraído, egoísta e insensível, ou seja, o Senhor precisa insistir, pois, na primeira vez que o chama provavelmente ele não ouviu, estava muito ocupado em olhar e escutar a si mesmo. O chamado vem com uma pergunta, mas não qualquer pergunta, uma certeira, que vai no fundo da alma, como quem diz, “Eu sondo o seu coração desde sempre meu filho, eu conheço as mais profundas intenções que moram ai”, que lindo e que constrangedor saber que nosso Senhor conhece as profundezas das nossas intenções!
Diante de desse “chamado”, eis que Saulo responde, At 9, 5 “Quem és, Senhor?”. Claro, ele não sabe quem chama, ele não conhece quem chama, ele não entende por que chama, há muita coisa envolvida nessa resposta, fruto de tudo que esse homem até então vivia como verdade absoluta, mas não trataremos disso aqui, o importante é perceber que, a falta de intimidade gera dúvida e confusão.
INTIMIDADE
At 9, 6 “Mas levanta-te, entra na cidade, e te dirão o que deves fazer”
Calma… Por que o próprio Senhor não disse o que ele devia fazer? Já estava rolando um diálogo, qual seria o problema? Simples, um coração impuro é incapaz de traduzir com fidelidade aquilo vem diretamente de Deus. Ele é suave, Ele fala baixo, Ele fala no profundo de nossa alma, e para ser compreendido precisa encontrar um ambiente (interno) favorável, e Saulo ainda não estava pronto, ele provavelmente, por conta de seu pecado, traduziria mal, e seguramente haveria adaptações para interesses próprios. O Senhor sabia disso, lembra? Ele sonda as profundezas de nossas intenções. Então, misericordiosamente diz, “te dirão o que deves fazer, pessoas mais intimas a mim vão traduzir com fidelidade o que Eu quero e vão lhe transmitir de forma que você entenda, apenas obedeça!”
Ao mesmo tempo, praticamente literalmente, há outro chamado pelo nome, porém, reparem a diferença.
PRONTIDÃO DO SIM
At 9, 10 “(…) O Senhor lhe disse em visão: Ananias! Ele respondeu: Estou aqui, Senhor!”
Mais um chamado pelo nome, agora através da visão, menos evidente e mais sensível, e percebam que dessa vez o Senhor chamou apenas uma vez, isso foi mais que o suficiente para Ananias reconhecer quem o chama, e prontamente responde de forma direta e objetiva, não qualquer resposta, mas uma resposta de quem se coloca à disposição, em prontidão. “Estou aqui, não em outro lugar, minha cabeça, meu pensamento, minha prioridade, está aqui”.
E claro, lembra que o Senhor é aquele que sonda as mais profundas intenções de nossa alma? Então, Ele reconheceu verdadeiramente em Ananias um coração disponível e sensível, um homem que já gozava de certa intimidade com Ele e, diferente de Saulo, o próprio Senhor diz o que Ele devia fazer. Muito mais do que isso, tamanha era a confiança do Senhor nesse homem que, antes de Ananias dizer “Sim”, o próprio Senhor o havia mostrado a Saulo, At 9, 12 “e acaba de ver um homem chamado Ananias entrar e lhe impor as mãos”. Que maravilha! Eram amigos de verdade. Então, Jesus, com detalhes precisos revela sua missão.
Não era necessário conversar com ninguém, não era necessário escutar de mais ninguém, por mais complexa que seja a missão de Ananias ele a ouvia do próprio Senhor, sabe por quê? Porque estava disponível e prontamente disposto, porque seguramente estabelecia e investia diariamente em intimidade com o Senhor.
O final dessa história nós já conhecemos, no entanto, o que nos importa agora é espelhar esse episódio em nossas próprias vidas. Precisamos investir mais em nossa intimidade, nossa amizade com o Senhor Jesus, sabendo que Ele nos sonda, precisamos desejar sondá-lo, para que Ele não precise repetir o nosso nome insistentemente, não precise se ocupar da boca ninguém para falar-nos ao nosso coração e revelar os seus desígnios. Estamos ainda na dependência de irmãos mais íntimos para conhecer a vontade de Deus em nossas vidas? Corramos… Ele deseja falar diretamente aos nossos corações e com a mesma precisão detalhada que usou com Ananias, deseja nos revelar suas vontades e desígnios.
O início da vida de Paulo foi dura, aprendeu, investiu e ganhou tamanha intimidade com o nosso Senhor Jesus a ponto de, no auge de seu ministério poder declarar:
“Já não sou quem vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20).
Ele chegou lá! E eu?
Ajudai-nos Santo Ananias e São Paulo e rogai por nós.
Graça e Paz, Rodrigo Fumagalli – Apóstolo CACL
Leia mais: