Há uma certeza em nossas vidas, temos dois únicos momentos: o agora e o na hora da nossa morte.
Há certos momentos que esse agora, se encontra com o na hora da morte. E essa semana, o meu agora se encontrou com a hora da morte do meu avô. No breve segundo de nossas vidas, se cruzaram os nossos dois únicos momentos.
O cruzar dos momentos
Há dois meses já víamos ele no hospital, entre sofrimentos, tratamentos, esforços, agonias. Esteve consciente na maior parte do tempo, ligando para dar parabéns no dia do aniversário de cada um, como fez no meu, perguntando do Palmeiras, preocupado com as contas…
No dia 03 de maio pela manhã, fomos chamados pelo hospital, e nesse momento de dor, a Divina Providência nos presenteou em poder ficar suas últimas horas todos com ele. Os netos, filhos, genro e noras, esposa, todos indo visitá-lo e ficando naquele quarto da UTI.
Quando cheguei, às 14h da tarde, ele ainda estava acordado, estava em seus momentos de agonia, pedia por água, mas já não podia tomar mais. Então molhávamos sua boca para dar algum alívio com um algodão, molhamos sua boca com água benta. Pedia para cobrirmos ele. Dissemos que todos seus filhos já estavam chegando, para ele ficar calmo. E, quando perguntamos “você está nos vendo vô?”. Ele assentiu com a cabeça.
Rezamos o terço da misericórdia com ele, e repetidas vezes disse: “não precisa ter medo, está tudo bem. Vai passar, vai ficar tudo bem. Ainda há tempo vô. Não precisa ter medo!”
Não temas
Voltei para casa no final da tarde, e eu já não veria mais o meu avô. Nesse mesmo dia eu tinha uma pregação marcada às 19:30, na mesma hora que minha irmã e minha mãe me ligaram dizendo “ele está partindo”.
Parei o carro na porta da Igreja e vi as mensagens no grupo “todo mundo conseguiu chegar, ele se foi”.
Foi a primeira pessoa da minha família que partiu: “E agora?”. Que sensação estranha!
Não sabia se ia para o hospital, se honrava o compromisso com a pregação. Aquele choro que vem sem nem percebermos tomou conta de mim naquele momento.
Respirei. Chorei. Rezei. Limpei as lágrimas e entrei na Igreja rezando por sua alma.
O tema da minha pregação era a anunciação da Virgem Maria, tema que por tantas vezes já preguei. Já fiz uma grade inteira de formação só com isso, e não conseguia pensar em nada. Não conseguiria pregar nada além do que estava vivendo naquele momento, então o Espírito Santo encaixaria tudo. Lemos a passagem, e uma das coisas que podemos ver o anjo Gabriel dizer a Virgem Maria é: NÃO TEMAS!
Exatamente o que repeti tantas vezes para o meu avô na hora da sua morte.
O agora precisa ter coragem
Tanto em nosso agora, quanto na “hora da nossa morte” a nossa resposta precisa ser um FIAT, porém, se não tivermos coragem, não conseguiremos dizer ao Senhor “faça em mim segundo a Sua Vontade”, encontraremos sempre desculpas para isso, para não responder no agora.
Maria não encontrou desculpas, ela que teria muitas, esteve com o coração disponível.
Já, se não respondermos isso no agora, na hora da nossa morte seremos tomados de medo ao clamar a Deus “faça a sua Vontade”. E por quê?
A vontade justa e misericordiosa
A vontade de Deus é manifestada por justiça e misericórdia. Porém, no agora é tempo de misericórdia. Na hora da nossa morte, se iniciará o tempo de justiça. Aqui está, se eu não clamei a Deus no agora por misericórdia, não dei o meu fiat (a resposta como da Virgem Maria, faça-se em mim segundo a Sua vontade) , meu coração se encherá de medo no tempo de justiça.
A justiça consiste em dar exatamente o que é devido a Deus e a você. Se respondermos ao longo da nossa vida como a Virgem Maria, na hora da nossa morte, em justiça daremos a Deus o que é devido, eternamente um fiat um no céu, um hino de louvor, adoração.
Agora, o contrário também é uma verdade.
Só temos esses dois momentos meus irmãos. O agora, e o na hora da nossa morte, e esses dois precisam estar unidos intimamente a Deus.
FIAT (Faça-se em mim segundo a Sua vontade)
O que nós podemos fazer então? Estar disponíveis a graça de Deus como Maria. Por nós mesmos, não conseguiremos fazer nada. Não alcançaremos a salvação. Mas estejamos sedentos e disponíveis da graça de Deus, ela é em nosso favor por toda a eternidade.
Deixo aqui disponível a pregação que fiz nesse dia, não tem imagem, e não tem a oração final, que foi um momento muito especial de abandono nos braços do Pai naquele momento, ao som de “Eu seguirei, eu irei aonde fores Senhor. Tua graça me basta! Teu amor me sustenta” Isso ficou guardado em meu coração.
Jesus me disse que se uma alma se arrependesse naquele dia por conta do fruto da morte do meu avô testemunhada naquela pregação, Ele honraria meu avô com mais misericórdia. E agora eu peço, se possível Jesus, estenda essa promessa para todos aqueles que lerem esse texto.
A pregação está disponível aqui: