Escrevo esse texto dia 12 de abril de 2021, aproximadamente 386 dias após ser decretado a pandemia. O mundo foi impactado por uma realidade nunca vista antes. Ninguém nos seus sonhos mais mirabolantes poderia prever que ficaríamos presos em casa por tanto tempo, ou que nossos negócios poderiam falir por não abrir as portas.
Em 2020 foram mais de 4 meses em casa, e agora novamente com uma segunda onda há mais de 1 mês em lockdown. Sabemos que nesse intervalo muitas pessoas flexibilizaram as restrições, porém nem se compara com antes. Tivemos nossas vidas restringidas, nossas igrejas fechadas e muitas vidas ceifadas. A maioria das coisas que utilizávamos como anestésicos e mecanismos de distração foram retirados e, com isso, ficamos surtados. Estamos sendo obrigados a conviver com nossos fantasmas interiores dentro de casa.
Qual o seu lado?
Durante esse período vi gente com diversos comportamentos. Nossa sociedade se polarizou ainda mais, estamos parecendo até aquelas festinhas das antigas que tinha lado A e lado B.
De um lado pessoas que até hoje negam a necessidade de cumprirem o isolamento social, do outro, os que tiveram medo de morrer ou de causarem sofrimento a alguém querido. Teve os casamentos que entraram em crise, e também os casais grávidos. Entre muitos negócios que fecharam, conheci pessoas que se reinventaram e, hoje, ganham mais que antes. Poderia dizer que tudo mudou, do lado de fora e do lado de dentro. Os que se adaptaram mais rápido saíram na frente.
Nesse momento estamos em um estágio de esgotamento emocional, físico e financeiro. Corremos para qualquer lado em busca de suprir as carências de abraços, vivemos um eterno conflito de fechar tudo ou abrir tudo, um tal de preservar a vida e cada um que viva a sua. Ou seja, momento de crise total. Aprendi que nesses momentos onde minha força humana já não alcança mais nada preciso recorrer a Jesus. Esse Jesus que encontro facilmente na Igreja que o oferece na eucaristia. Entretanto, elas estão fechadas. Digo por mim em nome de muitos: “Nos sentimos encurralados e muitas vezes sem saída.”.
Precisamos transcender
Nenhum momento de nossa existência vivemos sem a presença de Deus. Ele sempre está junto conosco, inclusive nos momentos difíceis. Não existe nenhuma dor que você tenha sentido ou algo que tenha passado que Jesus não estava lá junto com você. Com certeza Ele sofreu junto. Podemos afirmar isso porque nossas dores e pecados foram pagos na cruz antes mesmo de cometê-los.
Nossas vidas extremamente carnais e humanizadas acabaram por esquecer de transcender e entender a espiritualidade que move a vida. Tudo que acontece conosco quer nos ensinar algo. Ou foi algo promovido por Deus ou algo que Ele pode tirar um proveito disso. Vamos então para a pergunta mais importante de todas: “Após todos esses dias de pandemia, você já aprendeu a lição que Ele deseja te ensinar?
Orar em seu quarto
“Tu, porém, quando orares, vai para teu quarto e, após ter fechado a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará plenamente.” Mateus 6,6
No Judaísmo, existe o Torá, que é o compilado dos 5 primeiros livros da bíblia e reúne todo judaísmo. Nele também pode ser visto como um manual de conduta para um judeu. São diversas práticas que devem ser adotadas ao se apresentar a Deus: roupas, corte de cabelo, posturas, etc. Para você que se esqueceu, Maria e José eram judeus e criaram Jesus no judaísmo. Durante sua vida, Jesus percebeu que além de ter uma conduta específica, era preciso ter um coração puro. Em Mateus 6, 5 ele critica aqueles que fazem de suas orações espetáculos e depois nos ensina a entrar no quarto para conversar com o Pai.
Durante esse período de quarentena tivemos a oportunidade de cumprir de forma mais eficaz o que Jesus nos ensinou, transformar nosso quarto em um local de encontro com Deus. Cada um de nós precisou aprender a adorar pela tela do computador, a sentir Deus no silêncio do quarto e a fazer comunidade com sua própria família. Esse pode ter sido um dos grandes ensinamentos espirituais dos últimos tempos – ser Igreja também em minha casa.
Nossas igrejas estão fechadas (pelo menos aqui em São Paulo). Não adianta ficar reclamando, isso além de não resolver ainda te afasta. O Bispo já deixou claro a posição dele e você é convidado a tirar uma lição com isso. O que Deus quer te ensinar com essa situação? Ter uma fé mais madura sem depender de um grupo orando junto constantemente? A fazer da sua casa um templo de oração e santificação? A obedecer a voz de autoridade da Igreja mesmo que não concorde? Talvez seja aprender a dar valor aos sacramentos? Fica aí as possibilidades, mas você deve encontrar a sua resposta.
Aprendendo na tormenta
Existe um ensinamento popular que diz que na hora da tormenta não é para aprender novos truques e sim para testar se já foram aprendidos antes. Pois bem, a tempestade está demorando a passar e estamos sendo testados, muito testados. Na minha visão, Ele está separando os “homens dos meninos”. E o critério de seleção são aqueles que mesmo na dificuldade continuam a cumprir os ensinamentos de Jesus na prática.
A misericórdia de Deus é tão grande que podemos tirar bons proveitos de todo esse caos. Quantas vezes Ele nos socorreu nesse tempo? Inúmeras, não é mesmo!? Ele veio até você com um texto na internet, um sacramento ou até com o alento após perder alguém importante. Deus é esse que vai vir até nós quantas vezes forem necessárias. Sua Graça é derramada todos os dias. A única coisa que pode impedir isso é o SEU querer.
Para receber as bênçãos divinas é preciso se submeter, cumprir suas orientações e, por muitas vezes, fazer o que é desconfortável. Ficar em casa não está fácil para ninguém, eu sei. Porém, se você entender essa passagem, tudo será mais simples.
Igreja de portas abertas
É claro que não devemos transformar questões temporárias em definitivas. Se não posso entrar para a missa, entro para fazer uma oração. Aqui falo sobre não deixar que nada o impeça de estar com Deus. Enquanto o templo está fechado, você reza em seu quarto. Porém, quando encontra uma possibilidade, você corre ao encontro do Amado em sua casa, a Igreja.
Nesse período não caia na tentação de achar que você não precisa da Igreja e dos Sacramentos, estar longe dela é deixar ser seduzido pelo mundo e ainda cometer um suicídio espiritual. Nosso corpo e espírito precisa definitivamente dos sacramentos para se manter vivo. Em cada eucaristia é manifestada de forma mais concreta e perfeita a presença de nosso Deus em nossas vidas. Não devemos nos acostumar a ficar longe deles. Se nesse momento você se sentir confortável dessa forma, peça agora ao Espírito Santo um ardor de inconformismo, de saudade e de vontade de retorno.
Uma vez estava passeando com meu irmão que é protestante pela cidade de São Paulo e o levei a conhecer uma Igreja Católica. Muito me surpreendeu quando ele exclamou que não sabia que as Igrejas eram tão lindas e me fez um questionamento: “Elas sempre ficam com as portas abertas? Por que isso? A minha igreja só abre nas horas do culto.” Minha resposta também me surpreendeu: “Aqui é a casa de Jesus, Ele adora receber visitas e acolhe a todos que o desejam encontrar sem hora marcada.” Foi um ensinamento simplório, mas que o encantou. Hoje, com várias portas fechadas, tenho a certeza que nosso coração fica entristecido, entretanto, não podemos deixar de nos encontrar com o Senhor, mesmo diante das dificuldades externas.
Que fique claro, eu quero viver com Jesus no lugar que Ele instituiu para isso. Quero ser Igreja e estar com meus irmãos. Porém, também quero aproveitar todas as oportunidades de aprendizado que o Senhor quiser me ensinar. Quer estar com meus ouvidos abertos para ser orientado por Ele e, assim, quando possível viver como Ele nos ensinou. Amando uns aos outros como Ele nos amou.
E quando tudo isso passar, vá a Igreja, se reúna com seus irmãos e faça de sua comunidade um lugar mais forte e mais parecido com o Cristo. Aprender com a dificuldade não é se conformar. Não negue a mudança, deixe Deus te ensinar com ela!
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