“A Cruz, o poema predileto da humanidade, é o símbolo que se encontra ainda nos lares, em milhares de corações e em todos os túmulos; a Cruz é o alívio do desventurado, a esperança do moribundo. Na alegria ela enternece; na tristeza ela consola; até mesmo no cemitério, nas sombras da morte, a Cruz é um penhor de vida!” (p.7)
Meus irmãos fui impactado pelo livreto “A Paixão”, escrito por padre Júlio Maria, C. SS. R. Ele nos traz uma belíssima reflexão sobre a Cruz de Cristo ser o símbolo máximo de expressão de alegria e felicidade, não apenas para os cristãos, mas até mesmo para aqueles que não creem no Senhor Jesus.
Dor, caminho que conduz à felicidade
Nesta quaresma em meio ao ano de São José, e com esta pandemia em curso, nos privando da presencialidade nas celebrações litúrgicas da semana Santa, pelo segundo ano consecutivo, fui alcançado por esta verdade constrangedora, a Cruz é sinal de suplício e humilhação, só que de maneira secundária. Primeiramente, sendo expressão de conquista da vida eterna que nos é oferecida gratuitamente, ela é sinal de alegria.
Nos ensina o padre Júlio, que a humanidade busca felicidade por primeiro e só a encontra na Cruz. Não tem jeito. Isso eu já sabia, e inclusive vivia, mas daí a racionalmente perceber que há uma alegria pulsante na Cruz, confesso que fiquei extasiado.
Explica o padre:
“A Cruz é obra prima da alegria, porque ela é obra de Deus, e Deus é alegria infinita; e compreende mal a criação, mesmo depois da queda primitiva, quem supõe que a dor representa nas obras de Deus mais que um papel secundário. No mundo físico não é a dor que prepondera: ninguém pode descrever o número, a grandeza e magnificência de suas alegrias, que envolvem o globo.
No mundo moral, sem dúvida, existe a dor; mas ela procede da prevaricação do Homem, e não de Deus, cuja bondade apoderou-se dela, transfigurou-a, e de tal sorte transformou-a, que a dor tornou-se para o homem, na condição em que ficou colocada depois da queda, uma condição da alegria” (p.7-8).
A Santa da alegria
Se não ficou claro para ti após tão bela explicação, que a dor é o caminho estreito que conduz a alegria Suprema, e não fim em si mesma, como muitos hereges nos acusam de crer, te convido a assistir o filme da vida de Santa Bakhita. Se prepare, é extasiante, e extremamente constrangedor.
“Bakhita”, que significa “afortunada”, “sortuda” ou “bem-aventurada”, nome que não lhe foi dado ao nascer, mas lhe foi atribuído pelos raptores. Foi capturada e vendida por mercadores de escravos negros no mercado de El Obeid e de Cartum ao cônsul da Itália no Sudão, D. Calixto Legnani, que logo lhe deu uma carta de liberdade. No período de escravidão, Bakhita sofreu as humilhações, sofrimento físico, psicológico e moral dos escravos. Passou pela pandemia de varíola de sua época e enfrentou muitos, mas muitos dessabores, para ser bem brando.
Um olhar atento, percebe a alegria
Um olhar comum e desatento pode parar na dor e sofrimento da vida desta Santa, porém um olhar de discípulo, atento, percebe a alegria continua e inabalável expressa em sua face ao longo de cada transtorno e privação que lhe é imposta pela vida e por seus algozes.
A Santa sudanesa sofre com alegria. Sem ser catequizada em sua infância, já adulta ela se torna íntima de Deus graças à sua simplicidade, fecundidade e constante contrição, e consegue traduzir com sua vida o que é imitar a Cristo em sua dolorosa Paixão.
Abrace sua cruz com alegria
Não vou ficar contando o filme, espero que assista e mais pra frente faremos outro texto para o Eu Sou Cultura só falando deste filme, todavia quero frisar que em Bakhita vemos de fato cada uma das bem-aventuranças realizadas. Uma vida de mártir que em nada perde para os mais renomados Santos e seus martírios cruentos.
Cristo antes de carregar sua Cruz, abraça-a. E a transporta até o Calvário com dor e sofrimento, mas com muita alegria. Ele não murmura, não reclama, não retrocede, não se arrepende, Ele é feliz por estar realizando a vontade do Pai.
Recordo-me da frase do Papa Francisco – “onde estão os consagrados, há alegria”, e um consagrado é aquele que possui um coração crucificado, dilacerado de amor por Deus e pelos irmãos. Se não é assim, não há União com Cristo e, portanto, somente farsa e infelicidade.
Onde está a alegria na Paixão de Cristo?
Onde e como enxergar a alegria de Cristo em uma existência tão dolorida e ultrajada? O padre Júlio nos lembra brilhantemente, que apesar de sofrer desde seu primeiro vagido quando nasceu, até seu último suspiro na Cruz, Cristo, o Verbo, a Palavra do Pai era a alegria do Pai encarnada.
Por Ele e para Ele foram feitas todas as coisas, e como não haveria de se alegrar ao contemplar de dentro sua própria criação? Ou como não se alegraria o Autor do universo, ao realizar a salvação de sua obra prima. Pergunte a um pintor o que ele sente ao poder recuperar uma obra sua que fora danificada. Alegria. Prazer. Êxtase.
Assim foi Cristo, Maria Santíssima, Bakhita, assim devemos ser cada um de nós, que possamos abraçar nossas cruzes diárias com Alegria para sermos como a Santa Negra do Sudão, e assim seremos outros Cristos, verdadeiros consagrados. Bom tríduo pascal, e uma santa e alegre Páscoa!
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