O inverno da Quaresma e a primavera da Páscoa

Quando nos preparamos durante a quaresma para receber Cristo ressuscitado em nossas vidas, em nossa família, em um cenário de pecado, Ele traz a esperança de uma vida mais santa, de amarmos as nossas cruzes diárias, a esperança da vida eterna.

 

A Cruz de Cristo x Narcissus (Daffodil) = Sinal de Esperança.

O inverno aqui em UK é tipo aqueles que sempre vimos em filmes e desenhos animados, onde os esquilos juntam comida durante o verão e outono para hibernarem no inverno.

Há muita chuva, temos apenas de 6 a 7 horas de luz solar por dia, temperaturas sempre abaixo de 6ºc, às vezes contemplamos as belezas de um raro dia de neve e também um raro dia de sol que traz ainda mais frio; mas na maioria do tempo, hibernamos em nossas casas, apenas fazendo o essencial, não há festas, confraternizações, compras, entretenimento. É uma época difícil, onde por vezes temos que lutar para não pararmos a vida.

Mas o inverno não é tão ruim assim, tem suas belezas e uma delas são as Narcissus (Daffodil) (Narcisos, em português). Essas flores amarelas dão início ao fim do inverno.

Elas anunciam que este tempo difícil, gelado e cinza está com os dias contados. Quando essas flores chegam e vão dando vida a paisagem até então marrom e sem folhas, é sinal de que o inverno já vai logo acabar e que dias mais longos, de sol brilhante e céu azul, com temperaturas mais amenas, estão por vir. Dias de festa, de casa aberta, de roupas mais leves e muita atividade ao ar livre.

 

Mas afinal, o que tem a ver os narcisos com a Cruz de Cristo?

Simples, as duas trazem um sentimento inexplicável de esperança.

Providencialmente, esta transição do inverno para a primavera se dá ao mesmo tempo que a quaresma, que é um tempo de recolhimento interior e abnegação, para então ao final, conseguirmos crescer.

 

Tempo de crescimento e concretização

A quaresma é tempo de crescimento e a Páscoa é a concretização deste crescimento.

Podemos ver nas flores nossos esforços para crescer espiritualmente. Elas não crescem por si próprias, mas pelo poder da natureza de Deus dentro delas. É um momento de graça e difícil ao mesmo tempo, assim como o inverno: momento de recolher forças, direcionar as energias e empenhos para reconhecer e enfim nos convertermos dos vícios e pecados que nos escravizam.

E assim como as flores que nesta época crescem em meio ao cenário de quase morte, valentemente brotando do chão, trazendo um sentimento maravilhoso de alívio e esperança, também deve ser este o sentimento que alimentamos pela Cruz de Cristo. Onde, em um cenário barulhento, de dor, sangue, aflição e traição, há também um sentimento maravilhoso muito maior que tudo isso: O amor de Cristo por nós.

A Cruz de cristo não é apenas sofrimento e dor, mas é também sinônimo de um amor infinito, dele por toda a humanidade.

“Pois apenas quem muito ama, muito suporta.” (Pe. Gilvan Leite)

A quaresma é um processo que nos leva a liberdade: liberdade daquilo que nos possui e isso para nos possuirmos melhor para amar com liberdade.

 

O inverno com Deus

Ao contemplar o inverno, percebi que minha relação com Deus estava fria: poucos dias de fidelidade, de conversa e intimidade com Cristo, ou seja, dias cinzas, com uma atmosfera pesada e assim me escondi em mim mesma. Ao alimentar estas atitudes de pecado, fui tomando a cada dia, uma distância do céu e do sagrado. E foi neste cenário que iniciei a quaresma.

Quando nos colocamos distantes do Sagrado por vontade própria, muitos sentimentos contrários à vida vão tomando conta dos nossos pensamentos, sentimentos e ações e é ai que mora o perigo – Auto vitimismo, tristeza, depressão, preguiça – pois um pecado vai alimentando o outro e isso vira uma bola de neve.

Parece que Deus está distante, a luz de Cristo vai ficando cada vez menor no fim do túnel e nos vemos em volta de uma escuridão: um sentimento que sufoca, para uma claustrofóbica como eu.

 

O sofrimento do frio

Ao meditar os passos de Jesus na via-sacra, percebi que estes sentimentos é o sentir-se escravo. Quando isso acontece estamos sendo escravos de nós mesmos, escravos das nossas próprias vontades, escravos de nossas vidas, escravos de nossas atitudes, de nossos bens materiais.

Nos tornamos escravos da preguiça, da luxuria, onde tudo o que fazemos é para suprir um vazio: maquiar ou buscar por um prazer que nos faça esquecer o sofrimento do frio, nos tornamos escravos do egoísmo, onde apenas eu passo frio e não o outro. Qualquer alívio neste estágio, é temporário e falso.

Mas assim como o inverno vai terminando com um lindo sinal de esperança, que são as flores Narciso, esse sentimento de ser escravo junto com a quaresma, tem um final na Cruz de Cristo.

“Salve, ó Cruz, única esperança”. CIC 617

A cruz tem o poder de ressuscitar a fé. Devemos tomar posse de que a Cruz de Jesus não é maldição, mas ânimo para a nossa fé.

É na Cruz de Cristo que encontramos a consumação do amor de Jesus por nós. Na cruz, Ele nos salva e liberta nossa vida do pecado que nos escraviza, que durante todo o inverno nos fez sufocar. Traz a esperança de que com Cristo, conseguiremos superar os desejos carnais, para que em primeiro lugar em nossas reações, seja o Espírito Santo a agir e reagir, que seja primeiro o que Cristo quer para a minha vida e não o que eu quero.

 

Santa e Feliz Páscoa a todos.

Que vivamos uma linda primavera em um santo tempo de Páscoa.

 

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