Somos Todos Discípulos de Emaús

“Insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram!” (Lc 24,25)

Dizemos que temos fé, que cremos no Senhor e nele confiamos, mas será mesmo?

O evangelho de hoje é o relato famoso dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). E com ele o Senhor me incomodou em vários pontos nesta manhã.

Estamos em festa e é óbvio que o centro da passagem é o anuncio da ressurreição de Jesus, e a experiência destes dois homens com o ressuscitado. Mas o texto é riquíssimo e nos inunda de ensinos, exortações e consolações. Vamos a elas:

Você tem fé?

Segundo o Aurélio, fé é: confiança absoluta em algo, ou alguém.

Segundo as Sagradas Escrituras: fé é confiar absolutamente em Deus e professar com sua boca e suas ações que Jesus é seu Senhor e Salvador (Hb 11,1 / CIC 26/142/143).

Santo Agostinho nos ensina ainda, que “quem crê em Cristo toca Cristo!”

Olhando a para esta pergunta e conhecendo as definições citadas acima, pude responder ao Senhor que sim tenho fé, e também que não, não tenho fé. Como assim?

Quantas vezes me comportei como os discípulos de Emaús, e apesar de tantas experiências concretas com o Senhor, eu resolvi seguir o caminho velho, ou voltar para trás, retroceder. Várias vezes agi assim.

Com a Glória e ajuda Dele, também pude muitas vezes me lançar e mesmo sem nenhuma segurança humana responder ao Senhor positivamente, colocando confiança total nele.

Não sei se acompanha minha reflexão, mas o fato é que após a crucificação e morte de Jesus, os discípulos se dispersaram e começaram a voltar para a vida velha (Emaús), esquecendo-se que a ordem de Cristo era: “permaneçam em Jerusalém, em oração!” (Lc 24,49)

 

Assim somos nós! Homens de pouca fé!

Passamos uma vida tendo experiências com Jesus. Tendo a nossa fé alimentada pelo Cristo. Que desce de sua glória divina e se humilha para se mostrar a nós. Somos curados, libertados, amparados, e mesmo assim diante da cruz declinamos. Fugimos, retrocedemos, nos acovardamos.

Existe diferença de Pedro para nós? De Tomé para nós? De Judas para nós?

Não existe! Negamos, duvidamos e muitas vezes traímos o doce Jesus. Voltamos para nossas Emaús existenciais, ignorando os ensinos, profecias e exortações que os profetas nos fizeram. Não entendemos nada. Não cremos de verdade.

Em uma das aulas da faculdade de teologia, o professor nos ensinava. Para ser digno de fé, para que a fé exista é necessário que exista mistério, insegurança humana, e dúvidas científicas. Senão for assim não é matéria de fé.

Eu olho para uma mesa, e sei que aquilo é uma mesa. Eu vejo, eu toco, eu domino todo o conhecimento sobre aquele objeto. Mas Deus, Jesus, eu não vejo, não toco (a não ser na eucaristia) e pouco conheço, ou seja, não domino nada. E aí creio em Deus e que a ordem Dele para minha vida é a mais correta e segura?

Na maioria das vezes não creio.

Deus age fora da lógica humana. Dentro da lógica natural, mas fora da humana. A humana está distorcida pelo pecado. A natural, que achamos que dominamos, foi Ele quem fez. Ele domina. Quer ver:

1. Você acreditaria em um Deus crucificado, humilhado e que nem tinha aparência humana?

2. Você acreditaria na ressurreição, mesmo não sendo a lógica mais aceita no mundo?

3. Você permaneceria no lugar de morte e perseguição (Jerusalém)?

4. Você contrariaria todos, pais, irmãos, filhos, amigos, chefes, estudos, para permanecer no improvável, inseguro e inusitado?

5. Você trocaria o chão firme que pisas pela “aparente” instabilidade e inconsistência do céu?

Pois se sua resposta foi não em quase todas, seja sincero, bem vindo ao time de Emaús. De Pedro. De Tomé. Somos lentos e insensatos.

O Senhor tem fé em nós

Porém, não se entristeça muito. Cristo segue escolhendo Pedro, Tomé e os de Emaús. Aparece para ambos, reforça suas experiências de fé, assim como faz conosco. Inúmeras vezes.

Todavia, é necessário voltar-se para a cruz e caminhar em direção dela. E isso só será possível quando pararmos de necessitar das papinhas infantis que estamos acostumados a nos alimentar. Quem precisa de uma experiência atrás da outra são os cientistas e não os homens de fé.

A Igreja precisa de mais homens e mulheres que como os santos não têm medo da noite escura da alma. Profetas que entendam as profecias para suas vidas e assumam a cruz como sua meta de vida. Homens e mulheres que contrariam a lógica do mundo, e que se lançam de uma vez nas mãos do Senhor.

Chega de enrolação! 

Recentemente estivemos em um retiro na Comunidade Dominus Salus e, posteriormente, eu e mais alguns membros estivemos na escola de formação para leigos consagrados na comunidade Oasis, em Caxias do Sul, e em ambos foi levantada a mesma profecia feita em uma certa ocasião para as Novas Comunidades:

“Vocês são o povo que Eu escolhi, ou devo esperar outro?” (Jesus Cristo)

Não sei vocês, mas eu não quero ser conhecido como o discípulo de Emaús, ou como o Tomé, e muito menos como Judas.

Oração:

Senhor eu sou parte do povo que Tu escolhestes, não precisa esperar outro, eis me aqui!

“Desejo hoje voltar para Jerusalém, e crer que Tu, ó Cristo, tendo Ressuscitado, estás comigo, mesmo que não o sinta, que não o veja e que não o toque. Mesmo que haja a sensação de abandono, me ajude a crer mais e mais em sua presença ausente, e que eu consiga beber o mesmo cálice que o Senhor e seus santos beberam. Não há maior honra do que te seguir, e ter o mesmo destino que você. Tira me do medo. Tira me da dúvida. Tira me da indecisão.

Quero um coração intrépido como de Santo Elias, convertido como de São Paulo, puro como o de Santa Luzia e confiante como o de Santa Faustina. Ainda que eu pareça estar sozinho, saberei que estás comigo, afinal na cruz só existem dois lugares, o seu e o meu.”

Amém!

Por que Jesus apareceu primeiro para as mulheres? https://blog.cristolibertador.com/jesus-se-revela-primeiro-para-as-mulheres/