O Escafandro e a Borboleta – A liberdade no encarceramento

A paz do Cristo Libertador, galera! Voltamos com o tema liberdade e nesta semana quero partilhar com vocês a experiência de oração que tive semana passada com a ajuda de uma belíssima obra de arte, o filme “O Escafandro e a Borboleta”.

Resumo do filme

“O Escafandro e a Borboleta” (Le scaphandre et le papillon) é um livro autobiográfico escrito e protagonizado por Jean-Dominique Bauby (23/04/1952 – 09/03/1997). Jean-Do, como era conhecido entre os íntimos, foi um famoso jornalista e escritor francês, editor da revista de moda Elle. Aos 43 anos de idade, em 08/12/1995, sofreu um grave acidente vascular cerebral e entrou em coma, permanecendo nesse estado por 20 dias. Quando Jean-Do despertou, estava com as faculdades mentais intactas, mas tinha o corpo paralisado e foi informado pelos médicos de sua situação: ele possuía uma síndrome rara – a síndrome do encarceramento.

A única parte do corpo de Jean-Do que se movimentava era o olho esquerdo, e foi através dele que a equipe médica estabeleceu comunicação com o paciente, primeiramente através de piscadelas correspondentes ao sim ou não. Pouco depois, a fonoaudióloga desenvolveu um alfabeto ordenado de acordo com a frequência de uso das letras na língua francesa, com o objetivo de decodificar letra por letra, montar palavras e frases que também seguiam as piscadelas.

No cinema…

Em 2007, foi lançada uma adaptação cinematográfica, dirigida por Julian Schnabel. O filme foi feito através do ângulo da visão de Jean-Dominique. Ele narra sua vida e seus arrependimentos, principalmente os problemas familiares decorrentes da sua traição à mãe dos 3 filhos e faz uma retrospectiva dos seus dias saudáveis. Em sua nova condição, preso dentro do próprio corpo, ele cria uma metáfora com o escafandro, que é uma roupa impermeável, dotada de um aparelho respirador e hermeticamente fechada usada para longos mergulhos.

Após algum tempo internado e diante do êxito obtido através do método das piscadelas, Jean-Do se lembra do contrato que possui com uma editora e resolve escrever o seu livro, mesmo com todas as suas limitações físicas. Foi um trabalho árduo e feito com bastante paciência, juntamente com sua assistente que decodificava letra por letra, até formar frases e palavras através de piscadas do olho esquerdo de Jean-Do, o único meio de comunicação que lhe restou.

O livro O Escafandro e a Borboleta foi bem recebido pela crítica e 10 dias após seu lançamento, diante do estado debilitado que se encontrava, o autor morreu por conta de uma pneumonia.

Resumo retirado de https://lounge.obviousmag.org/bibliotela/2014/07/o-escafandro-e-a-borboleta.html

Minha vida real

Assisti este filme em 2017 e fiquei extremamente impactado pela situação do jornalista, e ainda mais por sua superação. Pensava comigo e cheguei até a ensinar isso aos membros de minha Comunidade: “Este é o exemplo máximo do que é ser Cristo Libertador!”.

Óbvio, que não pelos pecados e pelas falhas morais do protagonista, mas pela liberdade alcançada frente à prisão de seu próprio corpo. A liberdade é sem sombra de dúvidas um estado de alma, de espírito. Já dizia Santa Luzia: “O corpo só se contamina se a alma consente”.

Pois bem, ainda semana passada, alguns irmãos de Comunidade foram a um parque cheio de camas elásticas e de brinquedos de escalada. Um deles caiu de cabeça e o tombo foi daqueles que torce o pescoço e que costuma deixar pessoas tetraplégicas por aí.

Ao ver o vídeo que me foi apresentado como algo engraçado, me encontrei sem nenhuma vontade de rir e tomado por uma dor muito grande, somente pela possibilidade de que aquela pessoa que tanto amo pudesse ficar entrevada em uma cama. Graças a Deus não aconteceu nada, só uma torcicolo.

Quando partilhei isso com ela, chegando a cogitar que preferiria a ver morta a paralisada pro resto da vida, fui questionado por ela:

“Se fosse com você, eu preferiria que ficasse de cama do que morresse. Você me ama pelo que eu sou ou pelo que posso fazer?”.

A bomba da “não conversão”

Pois é. Entrei em crise comigo mesmo. Logo lembrei do filme. Logo lembrei do que ensinei aos meus. Logo me vi totalmente despreparado. Logo me vi utilitarista ainda. Logo me vi egoísta e com medo de enfrentar a dor, minha e ainda mais a alheia. Logo vi que estou longe da conversão que prego.

Pedi desculpas à pessoa, recolhi meus cacos e fui orar envergonhado.

Durante a semana, enquanto eu orava e meditava sobre isso, o Senhor foi claro comigo: “fique em paz, meu filho, eu sei que não está pronto, caminhe e se converta, sempre é tempo!”.

Rumo à conversão

Este texto não vai ter um desfecho como os demais, afinal, ainda estou orando sobre o assunto, meditando, partilhando com quem pode me ajudar.

Recorrendo ao futuro santo de nossa Igreja, o Cardeal Van Thuan. Pensando em nossa Missão Alabastro que evangeliza em presídios e Fundações CASA. Percebendo que não superei o medo de enfrentar a dor de quem amo. Prefiro sofrer que ver o sofrimento alheio, sobre tudo de quem amo. Fazendo o luto do Guilherme que eu achava que era livre.

Entretanto, apesar de angustiado em relação a este assunto, o meu coração se enche de alegria, pois sei que estou a caminho, rumo a minha conversão real e mais profunda, uma segunda, terceira e quarta decolagem.

Sou apenas discípulo, estou a caminho, aprendendo, em construção, enviado, mas não acabado. Alguém em busca do viver a consagração diariamente. Quero amar, ainda que não receba nada em troca. Quero um dia me assemelhar não ao jornalista, mas ao Cristo, que me chamou e me libertou. Que me chama e liberta. Que me chamará e libertará.

Encerro assim, deixando em aberto… um dia serei livre como a borboleta, livre como meu Libertador.

Veja a critica do livro e do filme: https://www.planocritico.com/critica-o-escafandro-e-a-borboleta/