É possível evitar o sofrimento dos filhos?

É possível evitar o sofrimento dos filhos? É sobre isso que quero meditar com você no texto de hoje aqui no “Sede Fecundos” dentro do Blog da CACL.

Princesa ou Bruxa?

Por esses dias estava cuidando da minha filha e de duas amiguinhas que estavam brincando no salão da capela Santa Luzia. Elas fingiam que eram os personagens do Filme “Enrolados”, mais conhecido como “Rapunzel”. No momento da brincadeira, cada amiga era respectivamente a Rapunzel (princesa) e o José (príncipe). E minha filha era a bruxa.

Foi ai que percebi algo errado. Ela não queria ser a bruxa, então, começou a chorar.

No primeiro momento pensei: Vou inventar um personagem, achar outro que não seja a bruxa, mesmo porque ela ficaria linda de Rapunzel.

Mas  eu não achei outro personagem e então me peguei pensando: porque estou querendo tirar esse sofrimento dela? Porque ela sempre precisa ser a princesa e nunca a bruxa que é feia e morre no final? Mas ela estava chorando enquanto as amigas brincando e sorrindo. Meu Deus, o que fazer?

Naquele momento, refleti rapidamente e não fiz nada. Depois fiquei pensando em casa que se eu interferisse naquele momento na brincadeira delas, tiraria a liberdade da minha filha e prejudicaria o desenvolvimento dela. Afinal, ela mesma me disse que a bruxa é feia, porém, muito importante na história.

A liberdade!

Pois bem. A palavra liberdade ficou na minha cabeça, então busquei no CIC, onde diz:

A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto, de praticar atos deliberados. Pelo livre-arbítrio, cada qual dispõe sobre si mesmo. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e amadurecimento na verdade e na bondade. A liberdade alcança sua perfeição quando está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança” (CIC 1731).

Como é difícil para nós pais, entendermos que muitas vezes, por escolha própria, nossos filhos escolhem errado simplesmente porque são livres. Eles têm a liberdade de escolher, de agir e que isso é muito importante para que eles aprendam e cresçam, amadureçam e consigam enfrentar obstáculos bem maiores.

Vivemos querendo poupá-los, queremos evitar que tenham desgosto, que se entristeçam, que chorem, que sofram decepções.  Porém, tudo isso é inevitável. E a tendência é fazer isso quando são pequeninos e também quando já são homens e mulheres formados!

Hoje, nós pais, temos um grande desafio: educar os filhos dentro dos valores cristãos, ou seja, daquilo que Cristo nos ensina e nos chama a viver. E convenhamos que essa não é uma tarefa tão simples quanto parece, em especial em uma sociedade onde os valores estão totalmente distorcidos.

Porém, vale observar que na medida em que ensinamos que Cristo é Aquele que nos ampara, que nos guia e nos ajuda no melhor caminho a seguir, fica mais fácil aceitar e crer que, mesmo nos momentos em que as escolhas dos filhos são “erradas”, ou que estão sofrendo por qualquer motivo, existe Alguém por eles, que não somos nós e sim Cristo, que consola e que ajuda a retomar o caminho correto. Lembrando que o caminho correto nem sempre é o mais fácil.

“O respeito e a afeição dos pais se traduzem inicialmente pelo cuidado e pela atenção que dedicam em educar seus filhos, em prover suas necessidades físicas e espirituais. Na fase de crescimento, o mesmo respeito e a mesma dedicação levam os pais a educá-los no reto uso da razão e da liberdade” (CIC 2228).

Como Maria e José!

Muitas vezes, fico pensando como foi para Maria e José educar o Filho Único de Deus. Não deve ter sido uma tarefa fácil. Mas como sabemos, Cristo se fez homem como nós e também teve que aprender muitas coisas com seus pais.

Acredito que por muitas vezes Seus pais disseram: não corra, pois você vai cair, não faça isso ou aquilo, pois pode se machucar, e Cristo viveu, cresceu, aprendeu e amadureceu. Com toda certeza, no mais profundo do coração de Maria, ela não queria que seu filho sofresse e morresse na cruz, mas ela não pôde fazer nada.

Somos chamados a nos espelharmos em Maria e José. Pais que caminham juntos, que sorriem e também sofrem com os filhos, mas que não interferem em suas escolhas, deixando-os livres para seguirem seus caminhos.

Mas fiquemos atentos, pois não interferir não significa largar, abandonar. É preciso acompanhar de perto, conversar, saber, explicar, mostrar o caminho. Pois Maria, mesmo calada, esteve ao lado de Jesus.

Por isso, no caso da minha filha de 3 anos, não amenizei o sofrimento naquele momento. Sofri um pouco. Ela foi a bruxa e superou isso. Eu acompanhei de perto. Ela chorou, mas brincou até o fim.

Que Deus abençoe a minha e a sua família!

Ariane Fumagalli
Discípula da CACL