“A medida do amor é amar sem medida” – (Santo Agostinho)
Não haveria outra definição melhor para entendermos com que intensidade devemos amar a Deus, no entanto, numa sociedade que tanto fala de amor, será que temos claro o que é esse amor e como ele se manifesta? O amor é uma pessoa (1 Jo 4, 8), uma necessidade essencial, e uma escolha, que precisa se renovar a cada minuto, uma escolha que se desdobra em doação, sacrifício, entrega e suprimento das necessidades reais do amado, sem reservas, sem limites, sem contrapartidas ou seja, sem barganha.
Quando desdobramos esses conceitos, e espelhamos com o que encontramos em nossa sociedade, percebemos um certo reducionismo a respeito do amor, um sentimentalismo raso, que busca interesses e prazeres próprios, deformando os conceitos genuínos, e os transformando em puro egoísmo.
“(…) porque Eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus ciumento” Dt 5, 10
O Amor A Deus, é o primeiro e fundamental mandamento. Importante por sido o primeiro, e fundamental por ter sido atualizado por Deus em Jesus, em Mt 22, 37 quando o próprio Senhor Jesus evidencia esse como o “maior mandamento da lei”. Precisamos minimamente investir tudo o que pudermos nesse assunto.
Para isso, contaremos com a ajuda de homens e mulheres que viveram de forma profundíssima essa realidade. Em especial nossa amada baluarte Santa Faustina.
AMOR ENQUANTO PESSOA
O Amor enquanto pessoa, dá-nos claramente a primeira e principal razão pela qual devemos amar a Deus, que é, se não outra coisa, Ele mesmo. Devemos amá-lo pois Ele nos amou primeiro. “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único”. Jo 3, 16.
Muito merece de nós aquele que se deu a nós sem que o mereçamos.
“A reparação, ou seja a obra da redenção foi muito mais complexa que a criação, já que, na criação o Senhor Deus me cria com uma só palavra, por amor, já para realizar a obra da redenção teve que falar muito, trabalhar muito e se submeter a situações indignas, por amor. Como pagarei ao Senhor pelo bem que realiza em, e por mim? Na sua primeira obra, a da criação me deu o meu próprio ser, na segunda a da redenção se entregou a si mesmo. Ao dar-se, me devolveu aquilo que eu era essencialmente, ou seja, me criou e me devolveu a mim. Por isso me devo a Ele por duplo motivo! O que posso oferecer a Deus, por Deus mesmo? Ainda que eu me ofereça a Ele mil vezes, o que sou eu comparado a Ele?”. (São Bernardo de Claraval).
O amor é cíclico, ou seja, ao nos amar tão perfeitamente e gratuitamente, nos ensina como devemos devolver esse mesmo amor. Ou seja, amar a Deus enquanto pessoa é absolutamente e pôr primeiro, justo!
AMOR ENQUANTO NECESSIDADE ESSENCIAL
Já quando observamos o amor com as lentes da necessidade essencial, é preciso pensar que, quando Deus nos criou, à sua imagem e semelhança (Gn 1, 27), havia nEle um desejo de infundir em nós algo muito próprio de Si, uma potência, exclusividade dos seres humanos. Essa potência, que podemos também denominar como fonte de atração, ou até mesmo capacidade de Deus, é um precioso lugar em nossas almas que, nos faz a todo momento buscar a felicidade e o amor. Repare, tudo o que fazemos, o fazemos em busca da felicidade e do amor, de amar e sermos amados.
“(…) Ó Deus, quanto mais Vos conheço, tanto menos Vos consigo entender, mas essa mesma incompreensão dá-me a conhecer como sois grande, ó Deus.” (DSF 57)
Essa dignidade, infusa em nós, só é possível de ser assimilada, pois, é acompanhada da inteligência e das virtudes. Tudo isso para dizer que, conforme a experiência de nossa baluarte, Santa Faustina, a potência é o caminho que nos torna semelhança, e essa busca supracitada se finda quando voltamos ao nosso Criador. Uma vez encontrado, o aderimos apaixonadamente. Os que mais se sentem amados, possuem maior inclinação a amar!
“Oh quem compreenderá o Vosso amor e a Vossa insondável misericórdia para conosco?” (DSF 80).
“Tu és o que não és, Eu ao contrário, Sou Aquele que Sou”. (Jesus exorta a Santa Catarina de Siena).
Impossível que encontremos plenitude e saciedade em dispensar o nosso amor às realidades criadas, imperfeitas e vãs. Algo parecido seria se, ao encontrarmos um mendigo pedindo comida, e ao invés de oferecer pão, oferecêssemos um balão de ar. Soaria estúpido! Assim também transcendentalmente acontece com o nosso espírito que, em relação aos bens criados, nunca encontraremos saciedade em dispensar o nosso amor, a única coisa que provoca em nós é um inchaço vazio.
AMOR ENQUANTO ESCOLHA
Enquanto escolha, a perspectiva do amor entra como um grande desfecho pois, está intimamente ligada à liberdade, que por sua vez pode-se traduzir como vontade. Ordenar as nossas escolhas em função do amor e para o amor, é um trabalho diário, que se renova a cada ação e a cada reação. Se o amor é uma escolha, e só escolhe que é “livre”, é preciso entender que o amor por sua vez, está intimamente ligado à distância que estabelecemos do pecado, afinal, é o próprio Senhor Jesus que nos ensina “(…) quem comete pecado é escravo” Jo 8, 33. Pode alguém, intimamente ligado ao pecado, ter um coração livre e disposto a amar a Deus?
“O amor puro é capaz de grandes ações e não se deixa abater por dificuldades ou contrariedades. Assim como o amor é forte, apesar das grandes dificuldades – também é perseverante na vida monótona, diária, penosa. A alma que ama sabe que, para ser agradável a Deus, uma só coisa é necessária, isto é, fazer mesmo as mínimas coisas por grande amor – amor e sempre amor” (DSF 140).
Amar a Deus por Deus, amar a Deus pelo outro e amar a Deus por mim.
Estabelecer um distanciamento do pecado é concretamente realizar um caminho descente, que nos afasta de nós mesmos. Durante esse caminho, precisaremos realizar renúncias, e nos aproximar do sacrifício.
Nesse momento você, como eu pode estar se perguntando, que necessidade há em Deus que meu amor precisa suprir? Pois… nenhuma. O escândalo amoroso de Deus se esconde nessa dúvida, parafraseando São Bernardo de Claraval, um Deus que entrega o Filho, um Filho que se entrega a morte e envia o seu próprio Espírito Santo, que permanece conosco em profundo auxílio, nos ama com a totalidade de seu Ser trinitário. Ele não precisa de nada que venha da nossa miserável natureza humana, apenas deseja que o amemos, por quê? Porque o Amor salvará nossas almas e nos introduzirá na glória eterna, afinal “tudo passará, menos o Amor.” (1 Cor 13, 8.)
“Os sofrimentos, as contrariedades, as humilhações, os insucessos, os maus juízos de que sou vítima não passam de gravetos que mais ainda acendem o meu amor por Vós, ó Jesus.” (DSF 57)
Vivemos tempos difíceis, porém, tenhamos claro que, de todo mal podemos extrair um bem muito maior. Essa é mais uma grande oportunidade de amarmos a Deus e glorificá-lo como merece, afinal, em nossa impotência Deus e faz potente!
Graça e Paz.