Não sacrifique o seu Isaac!

Filhos amados e queridos, o sacrifício foi de Abraão e não de Isaac (Gn 22,1-19). Isaac não foi morto por seu pai. Ele apenas foi posto em seu devido lugar, antes que se tornasse um ídolo para Abraão. O Pai da fé deu show de fé, e prefigurou neste evento de sua vida o que mais tarde seria a Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo!

 

O Pai da Fé

A liturgia destes últimos dias está trazendo na primeira leitura os textos que mostram a trajetória de Abraão, o pai dos Hebreus (judeus), dos Cristãos (católicos e protestantes) e dos muçulmanos (Islã).

Este gigante viveu há aproximadamente dois mil anos antes de Cristo, ou seja, há quatro mil anos atrás, em uma época onde só existia o politeísmo e qualquer manifestação de fé e racionalidade ainda era muito rudimentar, com baixa racionalidade.

Abrão (pai de um povo), antes de se tornar Abraão (pai de um GRANDE povo), inicia sua relação de exclusividade com um único Deus, e esta relação de fidelidade a uma única divindade se dá o nome de monolatria. Pasmem, mas a fé de Abraão, em sua época, não excluía a existência de outros deuses, apenas inaugurava a ideia de fidelidade ao Deus dos deuses, o Senhor dos senhores, aquele que de fato era o mais poderoso e que exigia tal exclusividade.

Monoteísmo é outra história, mais desenvolvida, e só teremos seu início em Moisés, cerca de oitocentos anos após Abraão.

 

O Pai das misericórdias

Retornando ao pai da Fé, somente com as passagens da liturgia desta última semana podemos retirar uma infinidade de ensinamentos, todavia, o principal e que tem me constrangido é a misericórdia de Deus.

O Senhor ao escolher Abraão para a grande missão de ser pai de uma multidão de nações garante para ele terra farta e próspera, e ainda descendência através de seu filho único Isaac, estes são os primeiros frutos diretos da misericórdia divina.

Depois o Senhor ouve a intercessão de Abraão, que clama pelos justos de Sodoma e Gomorra, e mesmo não havendo justos naquele lugar, Deus salva a família de seu irmão Ló (Gn 19). Em seguida garante salvação para Agar e Ismael, filho bastardo de Abraão (Gn 21,8-21), gerado graças ao pecado de Sara e do próprio pai da fé que titubeou com a demora do cumprimento da promessa da posteridade.

Em resumo, misericórdia em cima de misericórdia. Misericórdia para com o Pai da Fé, sua esposa, para com os justos, para com Ló e sua família, para com Agar e Ismael, parece até que Deus está a toda hora correndo atrás de seus filhos para ajeitar suas cagadas e os fazer felizes e santos. Misericórdia.

 

O sacrifício de Abraão

Chegamos ao ápice da misericórdia de Deus na vida destes personagens reais. Deus pede uma prova a Abraão, um sacrifício dificílimo. Este não o nega, parece nem titubear, pega seu filho, põe a lenha sobre ele e vai até o monte Moriah para imolar seu Isaac.

Todas as vezes que leio esta passagem fico embasbacado com tamanha fidelidade, prontidão, humildade e obediência de Abraão. Que homem é esse.

O que o Senhor está pedindo ao pai dos hebreus é de que este dê uma prova de fidelidade total a Ele. De que ele só possui Deus como Deus, e não qualquer outra pessoa. Não seu filho. Isaac é a promessa, mas está bem abaixo do Deus que realiza as promessas. Sem Deus não há Isaac, sem Isaac ainda existirá Deus. A escolha de Abraão é óbvia, porém dificílima.

 

O sacrifício não é de Isaac

Gostaria de enfatizar de maneira bem enfática e redundante de que é Abraão quem está se sacrificando e ele não chega a imolar Isaac. Ele só oferta Isaac, para mostrar que está tudo ordenado dentro de si.

Deus, através do anjo, não permite que Abraão mate seu filho. Abraão volta para casa com Isaac, e com a coroa de glória de ter provado que era o homem mais fiel a Deus da Terra.

Quero fazer uma pausa na narrativa, para uma exortação. Não viaje na maionese e leia o texto direito. Abraão não sacrificou seu Isaac.

Apenas se libertou de vez da idolatria, e provou ser um homem livre. O que tem de gente fazendo escolhas esdruxulas, abandonando suas vocações e missões pessoais dizendo que Deus mandou sacrificar Isaac, não está escrito no gibi e muito menos na bíblia. Quem quer que você mate sua vocação, seu carisma, sua comunidade é Satanás e não Deus, então, por favor, desperta tu que dormes na escuridão, parece que não houve mais as trombetas de Sião.

 

Prefiguração da Paixão de Cristo

Isaac é a prefiguração de Cristo, inocente, sem mácula, o fruto da promessa de Deus, que carrega em suas costas o madeiro do lenho em que será imolado. Ele só questiona por pura curiosidade pueril, não contesta, não reclama, não murmura, só vai.

Abraão é a prefiguração do Deus que é Pai, que fará sua mão pesar sobre seu próprio filho. Sacrificando primeiro a si ao ver o coração de seu filho transpassado. Claro que sendo apenas uma prefiguração, ambos, Isaac e Abraão não experimentam na totalidade o que Cristo e Deus Pai experimentariam na plenitude dos tempos.

Mas que belíssimo ler esta passagem do sacrifício do Pai da fé. Que homem!

Que eu e você possamos entregar tudo pelo Tudo, não pondo nada acima de Deus em nossas vidas, mas ficando atentos, pois se matarmos o Isaac não provaremos nossa fidelidade, e sim a nossa surdez e falta de conhecimento da misericórdia de Deus, que nunca impõe fardos mais pesados do que seus filhos podem carregar.

Se achar que deve voltar ao monte Moriah e clamar por ressurreição, volte! Nosso Deus é misericordioso, sabe que quase sempre não sabemos bem o que fazemos, e costuma até ressuscitar os mortos para demonstrar seu amor sempre fiel à casa de Israel.

 

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