Você sabe o que é um sacrifício de louvor?

No dia 06/2/2021, a liturgia trouxe para nós em sua primeira leitura a Carta aos Hebreus (13,15-17.20-21). A orientação do hagiógrafo (escritor bíblico inspirado pelo Espírito Santo) foi claríssima em relação ao louvor:

“Irmãos, por meio de Jesus ofereçamos a Deus um perene (contínuo e ininterrupto) sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios (louvor, adoração e sorriso) que celebram o seu nome. Não vos esqueçais das boas ações (obras de caridade) e da comunhão (eucarística e fraterna), pois estes são os sacrifícios que agradam a Deus” (v.15-16).

Para ouvidos apurados e acostumados a ouvir a Palavra através dos textos sagrados diariamente, meia palavra já bastaria, mas como a grande maioria de nós, e em grande parte do nosso tempo somos desatentos e prolixos, procuramos sinais nos céus, ao invés de na frente do nosso nariz, não entendemos, ou ignoramos o que é bem pior.

Entre parênteses eu citei algumas explicações sintéticas de palavras e expressões fundamentais para entendermos o que nos orienta o Senhor nesta perícope (pequeno trecho bíblico).

 

Perene Sacrifício de louvor

Aqui, logo de início se não entendermos o que significa esta expressão, colocamos por água abaixo todo o resto do ensinamento.

A primeira coisa que precisamos nos lembrar, antes mesmo de saber se dominamos o significado desta expressão, é de que o sacrifício de louvor é fruto de um coração purificado, que encontrou descanso em Deus. Sem purificação não há louvor, mas só cara feia e muita murmuração. É meus amigos, o pecado azeda qualquer leite.

Em quantas passagens já lemos o Senhor deixar claríssimo nos mínimos detalhes de que Ele prefere a misericórdia do que o sacrifício, um coração puro e contrito, disponível a Ele e aos irmãos, do que oferendas e holocaustos (Mt 9,13)?

É evidente que o Senhor não está anulando tudo que ordenou no antigo testamento, Ele está ordenando para nós maus leitores, péssimos ouvintes, que qualquer sacrifício pressupõe antes de sua materialidade, sua reta subjetividade através de uma vida objetivamente misericordiosa.

Ou seja, se não realizo dentro de mim a misericórdia, se não sacrifico dentro de mim o pecado, os desejos desordenados, e sonhos gananciosos, em favor de um bem comum como posso ousar oferecer um sacrifício de oblação a Deus? Serei como Abel, que queimava os frutos que colhia, mas não os melhores, não aqueles pelos quais de fato o seu coração palpitava diariamente.

Perene significa sempre, ininterrupto, direto e reto na linguagem mais cotidiana, o que quer dizer que estas ofertas de louvor, de gratidão que devem ser oferecidas a Deus, não podem cessar, desanimar, cansar. O fogo do louvor não pode ser meia boca, uma brasinha, precisa ser ardente. Quem resolve dar a Deus, precisa o fazer com alegria, com louvor, ou de nada adiantará.

“Deus ama quem dá com alegria” (2Cor 9,7).

 

O fruto dos lábios

O fruto de nossos lábios é o louvor, ou a murmuração? A alegria ou a tristeza? Precisamos exercitar a nossa gratidão pelas graças concedidas pelo ator de todas as graças, e precisamos chegar ao perfeito louvor, a própria adoração, que é a exaltação do autor de todas as graças, é mais do que louvar pelo bem recebido, é adorar a quem os deu a nós.

Uma criança se alegra muito mais pela chegada e presença de seu pai, do que pelos bens que este as oferece. Nós precisamos ser como elas.

Quando chego em casa após um dia de trabalho, uma missão, ou uma simples ida à padaria, minhas filhas me recebem com um sorriso nos lábios, e vem correndo me abraçar, beijar e pedir minha benção, é assim que precisamos ser com Deus. É assim que precisamos ser em nossas comunidades, em nossas famílias, em nossas fraternidades, em nossos serviços, em qualquer lugar.

Afinal, temos um Pai que é Deus e nos ama? Ou somos órfãos abandonados e desprovidos? Pior ainda, somos órfãos porque queremos de Pai Vivo, e bem Vivo?

O fruto dos lábios do cristão santo consagrado a Deus precisa ser o louvor com palavras e com muitos sorrisos, já dizia o Papa Francisco em sua exortação apostólica Evangelli Gaudium:

“A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento! Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos, a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria.”

Queria dizer-vos uma palavra, e a palavra é alegria.
Onde quer que haja consagrados, aí está a alegria!
à Papa Francisco.

 

Boas ações e comunhão

Por fim, quero ressaltar o enfoque dado a não nos esquecermos das boas obras e da comunhão. Não sei se já se deu conta, mas a Trindade em seu infinito amor e sabedoria realiza entre si um movimento mútuo, ininterrupto e eterno de amor.

Aquela belíssima história de que o Pai ama o Filho, o Filho ama o Pai, e o Amor que existe entre ambos é o próprio Espírito. A este movimento de interpenetração das pessoas divinas damos o nome de pericorese.

Quero te ajudar a abrir os olhos e perceber o que percebi recentemente. O amor gera doação. O amor gera pureza, tudo é fonte do seu Amor. Deus cria porque ama. Deus salva porque ama, elege porque ama. Envia porque ama. Deus ama e, portanto, todas as suas obras são boas. Ele ama e por isso vive em perfeita comunhão entre si.

 

O louvor é fruto do amor

As boas obras de Deus são frutos de amor sempre fiel e Ele nos oferta com alegria, é isso que Ele quer ensinar. Se digo que amo, mas estou sempre triste (tristeza), acumulando os dons para mim (avareza e gula), buscando meu próprio bem estar e prazer (luxúria e soberba), buscando ser melhor que o outro ou dar mais que ele (inveja e competição), estou longe de amar de verdade. Na verdade estou há um passo do abismo. Muito próximo do divisor, de Satanás, do sempre triste.

Se quero participar da eucaristia e ser cimento de comunhão na vida de minha comunidade, preciso encontrar a atitude própria dos corações puros, submissos e alegres, o louvor. Urgentemente. Satanás se negou a louvar, adorar e a servir Jesus. Quando murmuramos, nos preferimos, nos preservamos, e vivemos tristes como árvores secas, é com o capetão que nos assimilamos e aliamos, e não com os verdadeiros santos consagrados de Deus.

Estes sacrifícios são os que verdadeiramente agradam a Deus. São frutos de um coração submisso, purificado, e grato, que louva e adora.

 

Referências:

ALEGRAI-VOS – Carta Circular aos Consagrados e Consagradas – Do Magistério do Papa Francisco

http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccscrlife/documents/rc_con_ccscrlife_doc_20140202_rallegratevi-lettera-consacrati_po.html

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA – EVANGELII GAUDIUM

http://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html

 

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