O Planeta Temperança

O conjunto total das virtudes infusas teologais e morais poderia ser representado graficamente com uma imagem astronômica formada do seguinte modo:

  1. Três grandes ESTRELAS ou SÓIS com luz própria: fé, esperança e caridade;
  2. Quatro grandes PLANETAS com luz recebida do sol: temperança, fortaleza, justiça e prudência;
  3. Muitas virtudes SATÉLITES relacionadas com seus respectivos planetas, como derivadas ou anexas;”[1]

 

Fiquei devendo esta explicação no primeiro texto desta série que lançamos aqui em nosso blog, então, está aí, promessa é dívida, e é virtuoso pagar as dívidas!

 

O Planeta do tempero

 

Viajantes em busca das virtudes perdidas, sejam bem-vindos ao planeta temperança. Calma, sem desespero, iniciamos por aqui, pois dentre as virtudes cardeais, a temperança é o primeiro degrau na escala de perfeição. Sem galgá-la, jamais se conseguirá ser forte, justo e prudente. Sim, existe uma escala de perfeição e de importância entre as virtudes, se não sabia, anote aí.

Sim, se você acabou de pensar que temperança, talvez, tenha a ver com tempero, você acertou. Sua meta é pôr em ordem o reto uso das coisas aprazíveis e agradáveis. Isso mesmo temperar nossa vida da maneira correta, evitando excessos que estragam a comida de nossa existência, e fugindo da escassez, que tornaria qualquer alimentação sem graça e xoxa.

Segundo o teólogo Antônio Royo Marín, esta virtude modera (equilibra) a inclinação aos prazeres sensíveis (apetite concupiscível), especialmente do tato (sexo) e do gosto (alimentação), contendo-a dentro dos limites da razão iluminada pela fé. Em outras palavras, é como se fosse colocado em nós um manual de santidade com o título: Santos, como comem, como se reproduzem, como vivem! Rs.

Irmãos o caminho que nos leva para a santidade é duro, exigente, e difícil, não há como negar isso. Porém, é prazeroso e por muitas vezes muito agradável. Deus não colocou em nós os órgãos sensitivos, para que vivêssemos como plantas, que ou vegetam inertes, ou são podadas a todo momento. O prazer é presente do Senhor para os homens. Para que possamos gozar, já nesta vida, os prelúdios do céu. O problema é viver para ter prazer, aí mora o perigo da modernidade. Não somos animais, e nossos sentidos precisam estar subjugados, orientados, ordenados, e potencializados pela nossa razão segundo os parâmetros de nossa fé, ou, do contrário seremos como cachorros famintos e no cio.

 

Os satélites do planeta Temperança

 

As virtudes satélites de uma virtude cardeal podem ser classificadas em integrantes, subjetivas e potenciais.

 

a) Partes integrantes: elementos que integram a virtude cardeal ou a ajudam em seu exercício. Para a temperança são duas:

1º Vergonha >>> Não é propriamente uma virtude, mas uma certa paixão louvável que nos faz temer as consequências do pecado;

2º Honestidade >>> é o amor ao decoro (recato no comportamento, decência) que provém da prática da virtude;

 

b)  Partes subjetivas ou espécies: São as diversas espécies nas quais se subdivide uma virtude cardeal. No caso da temperança, estas ajudam na moderação do gosto e do tato, principal missão da virtude cardeal em questão. São elas:

i) Sobre o gosto ou a nutrição:

Na comida: abstinência;

Na bebida: sobriedade;

 

ii) Sobre o tato ou a geração:

Temporalmente: castidade;

Perpetuamente: virgindade;

 

c) Partes potenciais ou derivadas: que se relacionam de alguma forma com a virtude cardeal, apesar de apenas ordenarem atos secundários.

ii) Contra as tentações desordenadas muito veementes: continência (refreando as paixões fortes). Moderando a ira segundo a reta razão: mansidão.

ii) Moderando o rigor do castigo: clemência. Moderando os movimentos internos e externos dentro de seus justos limites, segundo seu estado ou condição: modéstia, subdividida em outras cinco:

 

  1. Na estima de si mesmo: humildade;
  2. No desejo da ciência: estudiosidade;
  3. Nos movimentos do corpo: modéstia corporal;
  4. Nos jogos e diversões: eutrapelia;
  5. Nos vestidos e adornos: modéstia ou ornamento;

 

A Lua do planeta temperança

 

A mais importante virtude satélite da temperança é a Humildade, ela juntamente com a virtude teologal da forma a dupla das grandes virtudes fundamentais que levantam todo o edifício sobrenatural.

Falaremos mais da humildade em um próximo texto. Calma que o universo é imenso e nossa viagem está só começando!

 

Referência:

[1] MARÍN, Antônio Royo, O.P. Ser santo ou não ser… eis a questão – Compêndio da obra: Teologia de la perfeccion Cristiana. Ed. Ecclesiae, 2ª Edição – São Paulo, 2018 – pág. 178.

 

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