A justa ira
Caímos no pecado da ira quando muitas vezes pensamos: “mas é justo eu sentir isso”, ou, “mas eu tenho motivo para estar com raiva”.
O pecado da ira tem como principal aliado nossa razão, que procura motivos para justificar tal pecado.
De fato, podemos dividir a Ira, se assim podemos dizer, em duas áreas:
- A ira como paixão
- Pecado, a ira como vício
A ira como paixão
São Tomás de Aquino defende a ira como uma energia neutra, nem boa, nem má. O que fará ela ser boa ou ruim, será a ação que será realizada.
A ira como pecado
É quando o sentimento da ira nos cega, naquele momento que parece que é incontrolável, sabe?
Nesse momento, nos assemelhamos ao demônio, e aqui está o pecado. Pois, essa atitude nos impede de agirmos conforme a justiça.
São João Clímaco defende que a ira é o primeiro degrau para descermos ao inferno.
Então, para evitarmos nossa descida para esse lugar, vamos analisar esse pecado.
Analisando a ira
“Os estágios do vício-pecado da ira podem vir logo depois da paixão natural da raiva.” Kevin Vost
É por isso, que precisamos analisar e se preparar.
O que nos ajudará a vencer a ira é a ESPERA. Nunca aja por impulso, que é provável que cairá no pecado.
O primeiro passo diante de uma situação que nos dá raiva é com calma ter o conhecimento da coisa.
Por exemplo, estou andando no ônibus e alguém pisa no meu pé. Fico com raiva no primeiro momento, mas quando olho para quem pisou, vejo que foi uma pessoa cega.
O conhecimento da coisa pode evitar que essa raiva vire um pecado mortal.
Segundo passo, o julgamento.
Seguindo o mesmo exemplo, a maneira que eu vou julgar o acontecimento do “pisão” que levei no pé após ter o conhecimento, será diferente.
Terceiro lugar, a decisão de agir. Só teremos capacidade de agir corretamente se antes conhecer bem as coisas e julgá-las, assim, com mais calma, poderemos agir punindo, exortando ou não o causador daquela ação.
Mas isso quer dizer que nunca iremos punir ou exortar alguém?
NÃO!
Podemos sentir raiva
A punição é necessária. Com os filhos, por exemplo, precisamos algumas vezes puni-los e quando formos dar essa medida, não precisamos forçar uma falsa calma.
Devemos analisar os pontos acima, e depois de analisá-los, em nossa ação podemos estar bravos, isso não é pecado.
Na vida pública de Jesus ele incorpora a justa ira quando purifica o templo (Jo 2, 13-22).
Porém, Jesus não foi destemperado nesse ato. Não foi como se ele estivesse descontrolado e em um único momento não conseguiu controlar.
Jesus era judeu, e começa dizendo na escritura que Ele estava subindo para Jerusalém próxima a páscoa dos judeus. Ou seja, Jesus já tinha feito aquele caminho pelo menos 30 vezes, e durante 30 anos viu aquela patifaria sendo feita no templo e não fez nada. Aqui ele estava no primeiro passo, de observar e conhecer.
Após isso, Ele julga e dá uma justa correção àqueles que lá estavam. Em seu discurso Ele está bravo, mas não está pecando, entende?
“Mansidão não é fraqueza. Há momentos para as ações mais duras, mesmo a justa ira deve ser moderada quanto ao modo pelo qual é expressa e demonstrada.
Cristo virou as mesas e disse palavras de reprimenda para os vendedores que desvirtuaram a casa de seu Pai, mas ele não os fez virar pó. Ele odiou o pecado, mas amou os pecadores, sempre moderando sua ira, e de modo mais impressionante ainda quando sofreu voluntariamente sua morte na Cruz.”
(Kevin Vost – Os setes pecados capitais)
A mansidão viril
A mansidão de Jesus é chamada de mansidão viril, como é lindo esse título.
Quando é para purificar o templo, ele aplica uma justa ira, corrigindo ali os que lá estavam. E diante de seus algozes na Cruz, Ele súplica perdão ao Pai.
Esse é o equilíbrio que precisamos buscar em nossas vidas.
Mais do que ninguém Jesus poderia se irar.
Quem poderia ser mais superior a nós do que o próprio Deus encarnado? E quem poderia sofrer mais injusta punição?
Quem poderia ter sido mais traído? Foi traído por Judas, abandonado pelos seus três amigos no Getsmâni quando pediu para que eles vigiassem com Ele, negado por Pedro três vezes.
Na Cruz, Ele é desafiado a descer dela. E mesmo assim, não se ira!
Jesus tinha todos os motivos para sentir raiva, e pelo contrário pede para o Pai perdoar, pois não sabíamos o que fazíamos.
Somos esses, que muitas vezes não sabemos o que fazemos. A ira nos cega, e cegos fazemos coisas que não deveríamos fazer.
Quando Jesus reza ao Pai, Ele não está pedindo só por aqueles soldados, Ele está pedindo por mim e por você, porque todas vezes que somos tomados pela ira, nós somos esses algozes, matamos o nosso irmão, e assim, flagelamos Jesus Cristo.
Exercício contra a ira
Muitos membros de nossa comunidade estão fazendo o exercício de retardar respostas para lutar contra a ira.
É difícil, mas tem nos ajudado.
Faça você também, sempre que sentir essa raiva, não tome nenhuma atitude, simplesmente silencie.
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