Dois caminhos: a avareza e a providência.

A avareza se assemelha com a gula e a luxúria, pois estão na classe de pecados principiantes que atuam na área da alma que cuida dos desejos.

Porém, a gula e luxúria produzem um reflexo diretamente no corpo, enquanto a avareza possui um reflexo no espírito.

Quantas vezes achamos que não somos avarentos?

Só porque uma vez por ano doou roupa para o bazar, só porque empresto meu carro quando alguém precisa, ajudo financeiramente a comunidade ou outras instituições, acho que não sofro com esta doença espiritual.

Mas será mesmo que não somos avarentos? Ou usamos dessas coisas apenas como desculpas e conforto para o nosso ego sustentar o pecado?

Afinal, quando formos questionados sobre nossos bens, poderemos argumentar: “mas eu empresto sempre meu carro quando alguém precisa.”

Mas eu dou isso, e dou aquilo.

Veja, todos esses atos são boas obras e nos ajudam a combater a avareza, mas não podemos dizer que já vencemos ela por conta destas práticas.

Até porque, emprestar os bens, é muito diferente do que dar eles. E a avareza pode se alojar muito bem aqui.

Emprestar o carro quando se tem dois, é tranquilo.

Já pensou em ter que doar seu carro e andar só de ônibus?

Pois é, foi isso que Cristo fez por nós.

Cristo não emprestou sua vida

Se Cristo tivesse “emprestado” seu sacrifício, não teria combatido a avareza.

Na Cruz, Ele precisou doar tudo, a ponto de estar nu, sem nada.

Quem dá, não espera nada em troca.

Quando Jesus estava se doando na Cruz, Ele não estava esperando que em troca todos o amassem, e mesmo assim Ele deu tudo.

O que vem em meu coração, é que muitas vezes a avareza está alojada em nossos corações quando doamos ou emprestamos algo esperando alguma coisa em troca. E digo isso por mim mesma.

Os sinais da avareza

Podemos analisar as filhas da avareza, e caso encontremos alguma delas em nossas vidas, é sinal que há enfermidade ali, por mais leve que seja.

São elas:

  1. Traição
  2. Fraude
  3. Enganação
  4. Perjúrio
  5. Inquietação
  6. Violência
  7. Insensibilidade diante da Misericórdia

Enquanto estávamos tendo a formação sobre avareza, eu me deparei com uma dessas filhas em meu coração.

O meu namorado está procurando um emprego melhor, para que assim possamos dar alguns passos para o nosso casamento. E nesse tempo, meu coração se tornou muito inquieto.

A princípio, parecia uma causa justa essa inquietação, afinal é normal eu sentir isso diante dessa realidade.

Mas, enquanto falávamos desse pecado, vi o quanto essa inquietação é fruto do pecado da avareza em meu coração também.

Quantas vezes eu e o Gleydson discutimos sobre esse assunto só por conta dessa inquietação no meu coração?

E o pior de tudo, quantas vezes eu deixei de confiar na providência de Deus por conta desse pecado?

Muitas! E se acredito tanto que Deus provê tudo, como não acreditar que Ele vai providenciar um emprego para o Gleydson?

 A providência de Deus

A avareza faz com que não confiemos na providência de Deus.

Criamos muitas seguranças e reservas, e onde a providência de Deus entra, se por um momento parece que já temos tudo?

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam” (Mt 6, 19).

“Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8, 20).

É como se Jesus olhasse para nós, e dissesse: EU NÃO SOU SUFICIENTE?

Você precisa mais do que?

E todas as vezes que escolhemos acumular tesouros (seguranças, bens), diante do sacrifício de Jesus dizemos que aquilo não é suficiente para nós.

Jesus não tinha onde repousar a cabeça, e nunca lhe faltou nada, nem para Ele e nem para os seus.

Pelo contrário, superabundou.

Quem dera se hoje pudéssemos encontrar com Pedro e Paulo, e perguntarmos se eles se arrependem de terem deixado tudo.

Nas Bodas de Caná faltou vinho, com certeza aqueles noivos se programaram, fizeram suas seguranças.

Mas no fim, acabou o vinho, e isso é o que a avareza faz muitas vezes conosco.

Por um momento, aqueles noivos podiam estar cegos diante da real necessidade.

Ou até, se esgotou aquilo que eles achavam que era suficiente.

Achamos que alguns bens são suficientes, e são apenas bens esgotáveis, que acabam.

Achamos que aquilo é necessário, e na verdade não é.

A providência nos dá a medida necessária! A providência não é cega, como muitas vezes nossos desejos são. Então, por isso, vale a pena desapegar de tudo e confiar.

A graça da pobreza é a graça da liberdade.

Quanto mais pobres formos, mais livres seremos. Até chegar o ápice da liberdade que foi conquistada na Cruz, a ponto de Jesus dizer:

“Pai, em tuas mãos eu entrego o meu Espírito” (Lc 23,46)

Jesus já tinha entregue tudo, até mesmo sua mãe, como meditamos na reflexão sobre a luxúria. Então, chega o momento que Ele entrega seu Espírito.

TUDO FOI ENTREGUE!

A segurança de Jesus era só uma, no Pai, em sua providência, na sua vontade.

Só é livre para entregar até mesmo o seu espírito, quem está disposto a entregar TUDO.

“A Liberdade está na nudez da verdade!” Natália Maggio

A verdade é que Jesus estava nu na Cruz, sem nada, mas com tudo.

Sem nada, mas cumprindo a vontade do Pai!

Quando a luta estiver difícil contra a avareza, contemple-o na Cruz. E veja, que aquele homem se despiu de tudo.

Se despiu de sua divindade, deixou de ter aparência humana pelo castigo que recaiu sobre Ele, se despiu dos bens terrenos não tendo onde repousar a cabeça, se despiu de sua mãe. E no fim, entregou seu Espírito!

Que Jesus nos ajude a nos desprendermos dessas migalhas que chamamos de bem e nos leve a entregar tudo!

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Referência Bibliográfica:

Santo Tomás, Suma Teológica, II-II, q. 118, art. 6

Kevin Vost, Os setes pecados Capitais

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