A paz do Cristo Libertador galera, ótima semana a todos, e espero que nesta semana onde a Igreja celebra a conversão de São Paulo, eu e você possamos nos converter mais e mais!
Bom, quero partilhar com vocês um movimento de conversão em minha vida. Não, eu nunca usei drogas. Nunca fiquei em coma alcoólico. Nunca roubei ou matei. Nada disso. Recentemente tomei a consciência plena de que eu era um grande idólatra. E da pior espécie, aquele que nem sabe que é.
Idolatria
Para que entendam bem a gravidade deste pecado, vale saber o significado da palavra. A palavra idolatria herda dos radicais gregos eidolon + latreia, onde eidolon seria melhor traduzido por corpo, e “latreia” significando “adoração”, ou seja, adoração a um corpo.
Entrando na tradição bíblica, mais precisamente na Torah (cinco primeiros livros do A.T.), que nos relata a história do povo hebreu e a Lei deixada por Deus a eles, percebemos que por séculos, eu diria milênios, este povo lutou contra a idolatria, pregando somente a monolatria, em resumo, a adoração a um único Deus, e somente a ele prestar culto. Posteriormente, de Moisés para frente, começaram a defender o monoteísmo, que é a crença na existência de um único Deus. Nós cristãos cremos na existência de um único Deus e somente a Ele adoramos, somos monoteístas e monolátricos.
Quer dizer, pelo menos deveríamos ser…
O pecado original
No livro do Gênesis, no capítulo 3, está relatado como Adão e Eva foram seduzidos pela serpente e então, desejando ser como Deus, desobedeceram-no e comeram do fruto proibido. Por fim, perdemos o paraíso, fomos expulsos do Jardim do Éden e nos tornamos idólatras de carteirinha. Passou a ser natural a nossa busca por algo ou alguém que suprisse a ausência de Deus em nossa vida e, desde então, as coisas só pioram. Colocamos qualquer coisa, real ou imaginária, no lugar que é do Altíssimo.
Vejam! A culpa não é de Deus! Expulsa este espírito de Adão daí. Nós pecamos e é justo que paguemos por isso. Não faça que nem nossos primeiros pais que, depois de zoarem tudo, ainda jogaram a culpa pra cima de Deus – “[…] a mulher que o Senhor me deu […] – […] a serpente que o Senhor criou […] (Gn 3,11-12) – foge disso aí. Hoje colhemos as consequências desta lambança e, uma delas, é sermos naturalmente idólatras. Não fomos criados para ser assim mas, nos tornamos, e precisamos fazer força se queremos ser fiéis ao único e verdadeiro Deus, o pai de Jesus Cristo.
Não adianta negar, foi assim nos tempos antigos. De Abraão até Jesus, todos os povos ao redor de Israel eram politeístas, e os hebreus (israelitas) passaram mais tempo agindo como os povos estrangeiros, do que como o povo que deveria ser fiel à aliança. Basta ler os livros de Samuel e de Reis que você mesmo verá. Leia um pouco sobre a história e a missão do profeta Elias e verá. Mas, e depois de Jesus? Não melhorou?
Estava ruim, agora parece que piorou…
Não querido, não podemos dizer que melhorou, eu diria que só trocaram-se os ídolos, mas os idólatras continuam os mesmos, caindo que nem patinhos nas armadilhas da serpente (Satanás).
Jesus nos apresentou um Deus, um Pai, ainda mais difícil de adorar e de sermos fiéis. Agora não há mais grandes demonstrações de poder, mas sim de muito amor e misericórdia. Deus cura, liberta, restaura, restitui, porém, tudo com muito sacrifício e entrega, e cobra conversão urgente e profunda. Ele aceita todos, mas não aceita tudo. Agora, a lei, através de Jesus Cristo, é acessível e levada ao pleno cumprimento, uma baliza que deve levar a fé às últimas consequências, até a cruz.
Ou seja, se já era difícil adorar a um Deus que mandava fogo do Céu, agora então, nem se fala! Precisamos adorar a um Deus humilhado e crucificado. Ressuscitado sim! Mas antes escarnecido, rejeitado, nu, desrespeitado, que nem tinha aparência humana. Extremamente difícil no tempo de Cristo, extremamente complicado hoje.
Meu testemunho de amor pelo Batman
Como diz Mano Brown, aqui não foi diferente, segui, sem saber, o mesmo destino. Em 1999 me encontrei com Jesus pela primeira vez, aos 15 anos. Alguns anos antes já havia me encontrado com o Batman. Ambos os encontros aconteceram na minha adolescência, fase em que enfrentei o conflito do alcoolismo em minha família.
Meu pai nunca foi um mau pai. Era honesto, carinhoso e cheio de habilidades. Porém, com o desemprego constante e as crises da vida, ele se tornou um homem de pouca sobriedade. Gastou bastante dinheiro com o vício e, sem saber, acelerou alguns processos na minha vida, da minha irmã e da minha mãe.
A ideia aqui não é falar do meu pai, mas de mim. Amadureci amando histórias de heróis. E, de alguma forma inconsciente, o Batman virou meu referencial, afinal, ele também não podia contar com o pai dele, que havia sido morto por bandidos. Ele, o Batman, era forte, havia se tornado hábil, inteligente, incansável, superado a ausência dos pais. Ele tinha valores, não mata ninguém, somente prende. Ajuda Gothan City, ajuda o Comissário Gordon, ajuda a todos.
Seguindo o exemplo
Assim fui eu. Lutei para ajudar meus pais, sustentar emocionalmente minha mãe e minha irmã com minha amizade. Consegui me formar em um curso técnico, depois em arquitetura. Comprei meu carro, namorei, casei, me tornei coordenador do ministério, assumi o chamado para a fundação da CACL. Busquei sempre ajudar aos que podia, e como me doía quando não conseguia ser melhor do que era.
Ao longo de tudo isso, me aproximei de Jesus, e a figura do Batman foi se esvaindo, como que sumindo aos poucos, apesar de eu continuar gostando muito dele. Fui me apaixonando pelo mestre de Nazaré. A cada Paixão de Cristo encenada, eu queria que todos vissem o baita herói que Cristo é.
Todavia, há 3 anos, fui extremamente incomodado por um testemunho de um fundador amigo meu.
Como o Batman poderia ser bom? Como pode o cavaleiro das trevas ser bom? Sendo que só existe um cavaleiro das trevas, Satanás! (Maurício Absurdo).
Esta frase caiu como um raio em mim. Fiquei indignado e resolvi ignorar. Porém, certa monta, estava eu em uma seção de terapia psicológica, quando minha terapeuta esfregou a verdade na minha cara:
…No teatro de sua vida, a cadeira mais top, a mais VIP, aquela que deveria ser de Jesus, está ocupada pelo Batman…
Meu mundo deu uma estremecida. Como assim? Eu, idólatra? Sim, eu idólatra. Percebi que muitas coisas que eu dizia, acreditava, e como me portava, havia aprendido com o Batman e não com Jesus.
A realidade
As escamas caíram quando lembrei que, na trilogia “Batman – Cavaleiro das Trevas”, cada personagem representa uma corrente filosófica. E advinha qual corrente filosófica é representada pelo Batman? O cristianismo. Porém, no último filme desta trilogia, a cidade é salva com a suposta morte do herói, assim como Cristo fez. Só que o cavaleiro não morre. Ele arma uma farsa. Todos pensam que ele morreu quando, na verdade, ele está felicíssimo em outro país com sua namorada. A cidade salva por um mentiroso que não deu sua vida por amor.
Pois é, após me sentir um lixo, chorar, me confessar, vender as minhas revistas do Batman, queimar os filmes e camisetas e recolher meus cacos, percebi que era só mais um idólatra. Mais um Adão. Enganado pela serpente que me apresentou um fruto saboroso, que até me ajudou a abrir os olhos, mas não cobriu minha nudez. Me expôs e me tirou da comunhão original. Por alguns dias me senti indigno de pisar no jardim da ressurreição. Foi tenso.
A fórmula de recuperação foi, e é a da música, sabe? A humildade. Reconhecer que sou burro perto de Satanás e, se não estiver sob a graça, protegido por Maria e sob o sangue do cordeiro, sempre irei cair. A humildade sempre devolve o jardim a nós, sempre! Com tudo isso, pude visitar a dor da ausência de um pai sóbrio. Pude perdoá-lo. Ver tudo que ele me deu de bom, ser grato, e então seguir.
Hoje livre sou!
Menos um ídolo. Mais livre e verdadeiro. Sei que tudo que vivi foi permeado pela graça e, hoje só sou quem sou, que nem é muita coisa, porque Jesus teve misericórdia de mim e de minha família. De uma desgraça muito grande, Deus sempre tira uma graça muito maior. Hoje meu pai não bebe e nem fuma mais, Cristo o libertou. Minha irmã casada e caminhando comigo nesta luta de ser consagrado. Minha mãe, (que guerreira!), agora avó e lutando por sua vocação.
Sobre a cadeira VIP de meu teatro, não sei se Jesus já está sentado lá, espero que sim. Sei que Ele é o dono. Porém, tenho me vigiado dia após dia, para que eu não coloque ninguém lá. A tendência é que eu me traia e traia Ele, porém, hoje vigio, diariamente, para que o espetáculo da minha vida seja uma obra prima apresentada a Ele. E caso Ele deseje apagar as luzes e fechar o teatro, que assim seja.