Esse semestre eu tive que ler para a faculdade um livro chamado “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera. O livro é um romance que se utiliza da vida dos personagens para falar sobre psicologia humana, como o autor a entende, é claro.
Em certo ponto, próximo ao fim, Kundera afirma que “todos nós temos necessidade de sermos olhados” e, então, classifica e divide a humanidade em quatro categorias, cada categoria se baseia no tipo de olhar sob o qual queremos viver.
As Quatro Categorias
“A primeira, procura o olhar de um número infinito de olhos anônimos, em outras palavras, o olhar do público”.
Ou seja, na primeira categoria estão as pessoas que sempre buscam o olhar de muita gente, como quem quer sempre ter muitas curtidas e comentários no Instagram ou artistas que sempre estão buscando público. Nessa primeira categoria, o foco é ser visto e ter sempre alguém te olhando.
“Na segunda categoria, estão aqueles que não podem viver sem o olhar de numerosos olhos familiares”
As pessoas que se enquadram nessa categoria, diferente da primeira, não querem ser vistas por desconhecidos, mas sim por amigos, familiares e pessoas que estejam por perto. Geralmente se esforçam para organizar festas, jantares ou eventos que façam com que esses olhares e os elogios se voltem para si.
“Em seguida, vem a terceira categoria, a dos que têm necessidade de viver sob o olhar do ser amado”.
Nesse caso, a necessidade é mais direcionada. Tudo o que se faz, tem por objetivo chamar a atenção de uma única pessoa. Quem se enquadra nessa categoria não da muita atenção aos muitos olhares, sejam anônimos ou conhecidos, mas quer apenas o olhar desse “um” que é quem mais se ama.
“Por fim, existe a quarta categoria, a mais rara, a dos que vivem sob os olhares imaginários dos ausentes”.
São pessoas que estão sempre se movendo e moldando conforme um ideal, conforme o que acha que alguém (que não esteja presente) pensa que seja o melhor a se fazer. Também aqui estão as pessoas que se moldam por uma ideologia. Um bom exemplo, é uma pessoa que terminou um namoro e fica fazendo de tudo para ser notada pela outra pessoa e, tudo o que faz, é para chamar a atenção dessa pessoa que se foi.
Exercício
Eu e a galera da minha sala fizemos o exercício de nos classificarmos em uma das quatro categorias. Claro que todos temos um pouco de todas, alguns menos e outros mais, mas sempre existe uma que sobressai. E eu te convido a fazer o mesmo exercício agora antes de continuar.
Você quer muitos likes? Quer ser bem visto entre seus amigos? Deseja a atenção de uma pessoa só? Quem é essa pessoa? Se molda por uma ideia, um ideal, alguém ausente? Qual? Quem?
Quando eu fiz, o professor me usou de exemplo para falar da categoria quatro. Como todos sabem que vou à Igreja, ele disse que eu poderia estar na quarta categoria, por desejar me moldar pensando no que Jesus gostaria que eu fizesse. E isso me derrubou do cavalo. Porque sim, muitas vezes eu trato Jesus como quatro, como uma ideia, uma ideologia. Eu era da “quatro”, mas não serei mais.
A Meta
Jesus não é um ideal, não é alguém que já esteve presente aqui e foi embora. Cara, Jesus é vivo, vivo de verdade. Não são só Suas palavras que vivem, mas o próprio Cristo que ainda hoje continua a falar em nossos corações! O Jesus que ainda hoje se dá e vive na Eucaristia não pode ser tratado como algo, como uma ideia. Ele precisa ser tratado como Alguém com quem eu me relaciono.
A partir do momento que você sabe em qual categoria está, pode se pôr à caminho da categoria correta. Ser da categoria “um” não vai nos levar a nada, o próprio livro trata essas pessoas como pessoas que podem se entristecer a qualquer momento, porque os olhares anônimos podem desaparecer. Se enquadrar na categoria “dois” pode ser bom, mas até certo ponto, não como categoria principal. Sua vida não deve ser moldada para agradar a alguns amigos.
Estar na categoria “quatro” é loucura. Do que adianta ficar procurando ser olhado por pessoas que nem existem mais?
Ser Amado
Nossa meta é mergulhar na terceira categoria e ter apenas a necessidade de viver sob o olhar do Ser Amado. Mas não se iluda! O Ser Amado não é sua namorada, seu marido, sua mãe etc… Quem tem como ser amada alguma dessas pessoas, vai quebrar a cara. Essas pessoas vão parar de te olhar em algum momento ou vão olhar menos e aí você vai sofrer.
O Ser Amado deve ser Aquele que primeiro nos amou, que deu o Seu Filho Único por amor a nós, deve ser o Filho que se deu por amor e o Espírito que é todo esse Amor.
Só seremos verdadeiramente livres e felizes quando formos categoria “três” e nos relacionarmos com os Três que são Um! Essa é a meta: amar Aquele que me fez como ser amado!