O parto e o Calvário: locais de expiação, de vida!

Ainda falando sobre minha experiência no parto normal do nascimento de minha segunda filha, a Maria, não sai da minha cabeça todo o sofrimento e dor pelo qual passamos (óbvio que muito mais a minha esposa, mas eu sofri também), enquanto esperávamos que a dilatação vaginal mínima para que o bebê nascesse fosse alcançada.

Como contei, chegamos às 6hs no hospital com a bolsa rompida e apenas com 1cm de dilatação. Ou seja, para o parto normal acontecer, para acelerar o processo, visto a bolsa ter se rompido, minha esposa entrou no soro.

O soro

Ocitocina é o nome do hormônio que é a principal composição deste soro. Este hormônio é responsável, durante o trabalho de parto, por gerar as contrações que ajudam o bebê a nascer e que promove a dilatação necessária para que a criança passe pela saída uterina.

Bom, me perdoem a linguagem e possíveis erros médicos, afinal sou arquiteto, missionário e estudo teologia, medicina não é minha praia. Mas pensando neste soro e nas palavras de minha esposa, o Senhor falou!

Este soro é ou não é de Deus?

Enquanto estava sob efeito do soro das 9h30 até as 13h30, minha esposa dizia várias vezes:

Este soro não é de Deus, está doendo demais!”

O parto estava sendo induzido, o soro trouxe celeridade nas contrações e dilatação, então ia doer mesmo. Quando ela já estava exausta, pediu que tirassem o soro. Tiraram. Mas a dor não parou mais. Ai já era tarde. O trabalho de parto já havia começado. Não dava para interromper mais, Maria ia nascer, sim ou sim.

Mas e a dor? Nem diminuiu? Diminuiu, afinal, agora não havia mais indução artificial, havia apenas o natural em curso. Doía menos, mais doía.

Minha conclusão espiritual: o soro é de Deus!

Afinal, houve a iniciativa divina, a bolsa estourou no tempo certo e era necessário uma resposta nossa, humana, vamos ajudar a Maria nascer, portanto, “seu doutô coloca o soro nessa muié e vamos à luta”!

O soro do cristão é a cruz!

“As dores que a Mulher suporta no trabalho de parto ajudam a expiar os pecados da humanidade e extraem seu significado da Agonia de Cristo na Cruz. As mães são, portanto, não apenas co-criadoras com Deus; são co-redentoras com Cristo na carne” (Venerável Fulton Sheen).

Recebi esta frase de uma irmã e já não me saía da cabeça para que minha esposa e eu oferecêssemos toda a dor sofrida por todos os jovens e adultos encarcerados que atendemos em nossa missão Alabastro. Assim o fizemos!

Todavia, o Senhor gritava em meu coração:

“Minha cruz é como este soro! É a resposta de todos que aceitam meu chamado para vida e desejam me gerar neste mundo!”.

Não parou aí não, Jesus dizia mais:

“Minha cruz tem um tempo certo para ser assumida, assim como este soro para ser usado em uma grávida. Depois de assumida de verdade, quando iniciado o caminho do Calvário, não tem mais volta. Existirão alguns como Cirineu, que ajudarão, serão instrumentos de alívio, mas a dor não cessará, ela só cessará quando tudo estiver consumado!”.

Lembrei das palavras de meu orientador espiritual quando discerníamos se eu deveria largar o emprego pelo Reino e me tornar Comunidade de Vida:

Guilherme, você já foi longe demais com Deus, não há mais como voltar atrás”.

Olhei para a Natália e a amei. Com os olhos tentei dizer, agora é Calvário, meu amor, vamos juntos! Quero ser seu Cirineu!

Calvário é nascimento

A Maria nasceu. Assim como Cristo morreu por nós. A dor não era a meta, mas processo necessário para a redenção, para o nascimento de uma nova criatura, para o nascimento da Nova Criação.

As dores do parto de Jesus, Maria sentiu na cruz. Sem dúvidas foram bem piores do que qualquer parto natural já realizado na história. Sem dúvidas Nova Vida fora gerada aos que crêem. Sem duvidas, só certeza.

Mesmo na dor. No extremo sofrimento.
Com soro, com cruz, no calvário, na solidão.
Só uma certeza, lateja em meu coração…
Vida vale à pena.