Quando o Senhor diz: “Já não te chamarás Abrão, mas o teu nome será Abraão…” o Senhor está dando uma nova e verdadeira identidade a este filho.
Para que esta nova identidade fosse assumida e vivida foi necessário deixar muitas coisas para trás “Senhor diz a Abrão: Deixa tua terra, tua família, a casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei.” (Gn 12, 1) Abrão é chamado a deixar tudo para trás para se dirigir à sua própria terra interior ao seu “eu”, à sua identidade, a qual deveria diferenciar daquela de seu pai e de sua mãe.
Ao obedecer à voz de Deus, Abraão se coloca a caminhar interiormente, permitindo tornar-se quem realmente é, recebe o verdadeiro nome, tornando-se ao mesmo tempo fecundo.
E Deus lhe disse: “Eis a minha aliança contigo: tu serás pai de uma multidão de nações. (…)porque farei de ti o pai de uma multidão de nações. Farei crescer tua descendência infinitamente. Farei nascer de ti nações, e reis sairão de ti.” (Gn 17, 4-6).
Sara, sua esposa, é chamada para a mesma caminhada, quando Deus diz a Abraão: Quanto a sua mulher, Sarai, já não se chamaras Sarai, mas Sara…
Liberdade na identidade
Diferente de Abraão e Sara, Jesus tem total consciência de sua identidade, sabia aonde deveria estar “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” (Lc 2,49).
Jesus sabia se posicionar de maneira clara com relação à família e em relação a Deus, sua fonte geradora “meu Pai”.
“Desceu então com eles para Nazaré e era-lhes SUBMISSO.” (Lc 2, 51). Jesus era submisso e realizava aquilo que ainda era necessário e ordenadamente. Sua educação não terminara e ainda devia morar com seus pais.
A identidade familiar e individual
“Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim.” (Mt 10, 37)
” Não penseis que vim trazer a paz à terra. Não vim trazer a paz e sim a espada. Pois vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora da sogra. Os inimigos do homem serão os próprios parentes.” (Lc 12, 52-53)
Estas duas citações deixam bem claro o quanto é necessário realizar a separação do meu “eu” com toda a confusão, mistura, projeções, fantasias que se impregnam durante anos de relações filiais ao nosso eu, nos confundindo e até mesmo assumindo uma identidade que não é nossa.
Não é rejeitar ou excluir, mas sim a maneira de amar e de uma ordem essencial de prioridades a serem reencontradas no coração do amor.
Caminho de liberdade interior
Para viver uma verdadeira liberdade interior do meu “eu” é necessário realizar este caminho do qual Abraão foi chamado a fazer, realizar essa separação e se colocar a caminhar a terra do seu interior para que se cumpra a palavra que Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida, é vida em abundância.” (Jo 10,10).
Cada um de nós é único e somos chamados a crescer nesta unicidade.
Isso não significa ser individualista e autossuficiente, mas assumir a condição de filhos e filhas de Deus, pelo Filho. Precisamos nos tornar nós mesmo, pois misturados, será impossível atingir o nosso “eu”.
Renascimento do eu livre
Precisamos nascer da água e do Espírito, achar a nossa verdadeira fonte e única, a nossa primazia. É preciso deixar ser amado, modelar, se relacionar com o Amado para amar a Deus como ele nos ama.
Para este novo nascimento é necessário querer e escolher este novo trajeto.
Agora deixa eu te comunicar, se escolhermos permanecer na mesma, somos idólatras. Deixamos de ser conduzidos, participantes da obra do Espírito para não sermos guiados pelas leis e passos dos quais colocamos no lugar de Deus… pai, mãe, amigos, esposos, filhos…
Na palavra, esse caminho de separação interior é dado sob forma de uma ordem e a ordem de Deus é sempre um convite que conduz à vida. E se vivermos essa vida permitiremos abandonar uma vida cheia de culpa.
É necessário que nos separemos para encontrar a nossa identidade, nossa liberdade, nosso desejo próprio contando com o Espírito que nos conforta passo a passo neste caminhar.
“Em verdade, em verdade, vos digo: antes que Abraão existisse, Eu Sou”. (Jo 8, 58)
Que Jesus seja sempre a nossa meta, que não tenhamos dúvidas de nossa identidade e no fim de nossa caminhada consigamos dizer para o Senhor “Eu sou” com a certeza de que somos aquilo que Ele sonhou para cada um de nós!
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