“Eu estou aqui, em vossas mãos, fazei de mim o que vos parecer conveniente e justo, mas ficai sabendo que, se me derdes a morte, tereis derramado sangue inocente contra vós mesmos e contra esta cidade e seus habitantes, pois em verdade o Senhor enviou-me a vós para falar tudo isso a vossos ouvidos” (Jr 26,14-15).
Incrível como muda o tempo, alteram-se os personagens que falam, os que ouvem, os que vivem, porém, a Palavra de Deus segue sendo rechaçada e perseguida como sempre.
A Palavra perseguida
A verdade é que na realidade mais pura e profunda é a Palavra de Deus que é perseguida e não a voz que a proclama.
A voz, ou seja, os profetas que surgem de tempos em tempos e que a partir de Pentecostes estão espalhados por todo o mundo aos milhares não são a fonte, são só instrumentos de emissão da vontade divina. É a Palavra que exprime esta vontade divina que é brutalmente caçada para ser silenciada.
Mas não tem jeito, “se os profetas se calarem as pedras falarão” (Lc 19,40).
A urgência do profetismo
Outro dia acordei com a liturgia nos trazendo o martírio de São João Batista, que é morto por ser a voz que clama no deserto “endireitai os caminhos do Senhor” (Jo 1,23).
E a reflexão que me toma é esta, sou voz, não sou a Palavra, a Palavra é Cristo, se eu a proclamo correrei de encontro aos que querem silencia-la, afinal, são eles que precisam ouvi-la, não tem jeito.
Prudência sim. Expertise sim. Sabedoria e estratégia sim. Mas no final a urgência da proclamação da verdade mediante a liberdade que nos foi conferida, prevalece.
Os profetas são íntimos de Deus. Sabem o que Ele pensa e o que deseja. Sua Vontade Divina é como um fogo que arde dia e noite, que inquieta, e impulsiona. Um tesouro que não pode ser escondido. Precisa ser partilhado. Os profetas expõe e se expõe, pois verdade só é a Verdade quando vivida e não apenas falada, e vida não tem como se esconder. Ela brada por si só.
“Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (Jo 3,21).
A Perseguição é Sinal de Santidade
Em uma das lives sobre Santo Elias, em que tive a graça de partilhar com nosso irmão Júlio Neto da comunidade Aliança de Misericórdia, falávamos exatamente sobre a perseguição, última das bem aventurança, e que segundo Santo Agostinho é a prova cabal da Santidade. Profeta sem perseguição, não é santo ou é falso profeta.
Claro que estamos falando de perseguição real, em cima de homens e mulheres que de fato honram o chamado de Deus. Aqui não entra a correção que os pastores imprimem na vida dos desordeiros, indisciplinados e desobedientes.
Por fim, as cabeças dos verdadeiros profetas sempre estarão a prêmio no mundo, com a falsa ilusão de que decaptando-os, a Palavra seja silenciada, mas não tem jeito a Palavra é uma pessoa, Cristo Jesus, e esse, nem a cruz parou!