As renuncias nos elevam

As pessoas costumam te perguntar como anda o seu caminho de consagração?

Comigo acontece algumas vezes, mas apenas uma delas ficou marcada. Foi em Janeiro deste ano, quando uma pessoa me perguntou como era estar no meu primeiro ano de vínculos, se era difícil como muitas pessoas diziam e então logo me lembrei de quando eu entrei no vocacional, onde pessoas que estavam anos à frente me diziam que eu estava na melhor fase, que tudo iria piorar, que as cobranças viriam com força, de que teria muitas missões e muito mais.

 

Transcender o olhar

E apesar de ter ficado amedrontada, eu sabia quem havia me chamado, e então ignorei e segui!

Pela graça divina consegui transcender o olhar e passar isso a pessoa que me perguntou, pois ao longo do tempo fui percebendo que muitos na verdade não queriam renunciar as coisas boas para que algo melhor pudesse vir, ou se frustravam porque alguém não correspondeu sua expectativa. Por estarem desapontadas com suas escolhas, acabavam amargurando e atrapalhando a vocação do outro.

Se passaram alguns meses desde essa partilha e de muitas outras que vieram reafirmando isso, e hoje gostaria de te convidar a refletir sobre este caminho de renúncia e de configuração ao Cristo.

Renúncia

  1. Ato ou efeito de renunciar;

2. abandono de direito por seu titular, sem a transferir a terceiro;

 

A vida missionária é renuncia de si

Vejo que na vida Cristã quando se fala em renúncia, logo pensamos em algo ruim, de coisas, lugares e pessoas que nos levam ao pecado. E de fato, sem essas renúncias, ficará difícil ter uma intimidade profunda com Deus, pois o pecado nos afasta Dele.

Mas também é preciso nos recordar que para caminhar com Deus também será necessário renunciar coisas boas.

A vida missionária nos faz recordar isso. As vezes somos escalados para ir a missão no dia de festa de aniversário, do almoço em família, do passeio com os amigos, feriados, possíveis viagens, dias frios … E ali será preciso fazer uma escolha.

É onde nos recordarmos que é preciso renunciar coisas boas também, para que melhores possam vir, para que almas sejam salvas!

Isso não significa que a vida social nunca mais irá acontecer e que em um aniversário da sua mãe, por exemplo, você não poderá trocar a escala com o irmão, mas significa que as prioridades da nossa vida precisam ser e estão sendo ordenadas. As nossas vontades e desejos não podem mais ocupar o primeiro lugar, na verdade, nunca puderam! Mas talvez ainda não tivéssemos feito uma escolha verdadeira.

 

Consequências do caminho

Ao escolhermos o caminho de consagração, estamos escolhendo também as consequências dela, sejam boas ou ruins.

Foi isso que eu pronunciei nos meus primeiros vínculos:

“…Desejo dar passo rumo ao mar da tua graça, mesmo que isso me leva de encontro às tempestades e tormentas exteriores e interiores, pois tenho a certeza que tu és aquele que acalma os mares da minha existência…”

E é isso que vem sendo provado dia a dia.

Renunciar coisas boas também trará tormentos, talvez mais do que as ruins, pois não estamos acostumados a isso. É assim com pessoas que se casam, com padres, freiras, cada um na sua vocação.

Se pararmos para pensar, todos eles precisaram renunciar coisas ruins, mas também coisas boas, uma delas a família, alguns há km de distância, e sem data de visita. De início, essa realidade deve ter trago alguns tormentos.

Família e amigos que no geral vemos como algo bom, em algum momento precisarão ser deixados, para que algo melhor possa acontecer.

É onde Deus nos lembra que será preciso escolher a melhor parte e saber que aquilo que muita custa, muito vale!!

 

A vida comunitária não é um romance

Não estou querendo romantizar a vida comunitária, pois de fato, não é fácil fazer renuncias e também não é fácil viver com os irmãos de comunidade, mas nos decepcionamos mais facilmente se criarmos expectativas demais com as pessoas, se estivermos com o foco em criar amigos, se ficarmos olhando demais para os erros dos irmãos, com certeza iremos desanimar.

Como disse nosso fundador em uma de suas homilias, não estamos aqui para sermos amiguinhos, estamos aqui para nos tornar santos, a amizade vem como consequência, porém precisamos estar atentos diante da decepção que possa surgir um do outro, pois facilmente podemos atribuir uma decepção, frustração com alguém para toda a comunidade. Quando nutrimos essa dor para todo o corpo comunitário, corremos um grande risco de estar atribuindo ao próprio carisma, que é o Cristo e assim com o tempo ficará impossível suportar.

 

Reflexão

Diante de tudo isso, eu me perguntei e agora te pergunto:

Quem você tem sido dentro do corpo comunitário ou de qualquer outro grupo que participe? Você tem buscado viver em harmonia com seus irmãos? Você tem buscado a verdade e a liberdade nas suas relações? Você tem murmurado das missões que Deus lhe confiou?

Você tem atrapalhado a vocação do outro com os seus desgostos?

Você tem escolhido a melhor parte? Tem se reconciliado com seus irmãos?

Tem escolhido ser a verdade e a liberdade do Cristo ou tem preferido a sua verdade e a sua liberdade?

Você sabe quem te chamou?

 

Que o Espírito Santo nos ajude a se converter e se configurar ao Cristo, tendo mais sede pelas almas do que pelos nossos prazeres!

 

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