A Verdade sempre aparece!

Já dizia minha mãezinha quando eu era pequeno – “menino não me esconda nada, fale a verdade, porque a Verdade sempre aparece” – claro que estou omitindo a frase de efeito que vinha depois para caso eu desejasse mentir, mas essa todos conhecem, a dica é: chinelo.

Em maio de 2022 tive a graça de missionar na Inglaterra por vinte dias, e pude conhecer a Galeria Nacional de Londres. Lá me deparei com umas das mais belas e carismáticas obras de arte que tive o prazer de contemplar nesta vida – O Tempo revela a Verdade – do artista Jean François de Troy.

 

O significado da Obra

Em síntese a figura alada ao centro segurando a foice é o Tempo, que tudo ceifa e tudo revela. A mulher iluminada ao centro, com o seio direito despido é a Verdade sendo revelada, e por sua vez desmascarando a Mentira a sua esquerda. A Verdade ainda apresenta com sua mão direita as quatro virtudes cardeais que são o caminho para a perfeição humana: A Prudência (mulher de branco segurando a serpente), a Justiça (mulher imediatamente abaixo da Prudência, segurando a espada e a balança), A Temperança (mulher reclinada sobre a Justiça, que tem em uma das mãos o jarro de água), e a Fortaleza (mulher sentada em cima do Leão).

Por fim, a Verdade está com seu pé direito em cima do globo terrestre, demonstrando sua supremacia final sobre todas as coisas que existem. Interessante também perceber, que somente a Temperança toca na Verdade, como que preocupada em que seu revelar seja caridoso, para que a revelação não se transforme em escândalo.

Claro que este quadro me remete em primeira instância ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo – “[…] e conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará. (Jo 8,32) – e em seguida à frase que define nosso carisma comunitário – “Ser sinal da Verdade e da Liberdade do Cristo, em todas as realidades de escravidão humanas”. Bom com isso não preciso dizer que para nós a Verdade é o principal valor a ser perseguido e vivido.

 

A Verdade liberta e gera a confiança

Em uma era cada vez mais relativa e covarde, sustentar a verdade passou a ser sinônimo de loucura para muitos. Expô-la, sinal de imprudência e destemperança. Não foi um, nem dois, e nem três padres que já orientaram alguém de minha comunidade a omitir algumas revelações, pois a verdade iria gerar problemas, abalar relacionamentos e quem sabe levar à falência muitos castelos de areia.

Mas como receber o perdão de Deus, e omitir de quem se ama uma traição? Como viver com irmãos que prejudicamos sem que estes tenham o direito de saber quem de fato somos, e o que um dia fomos capazes de fazer contra eles? Como construir qualquer relação sem a fundação sólida da Verdade, que inclusive gera e lapida a confiança?

É caros irmãos, de fato nem tudo pode ser contado e dito a todos, mas não há nada oculto que o Tempo, um dia não revele. Mais cedo ou mais tarde a mentira, o engano são desmascarados (Mt 4,22). E mesmo que seja apenas omissão, vale lembrar que eu não posso ignorar a presença de alguns elementos no solo sobre o qual construirei minha casa. Existem coisas, que precisam ser reveladas, pois só assim a Liberdade de fato jorrará como um rio caudaloso e purificará nossas vidas.

Ah Guilherme, mas revelar a verdade em algumas circunstâncias se faz desnecessário e pode ser mesmo um tiro no pé! Não discordo do tiro no pé, mas antes um pé baleado do que futuramente o tiro sair pela culatra e acertar o coração da confiança. Já imaginou dividir uma vida com alguém que não se sabe do que é capaz? Que relação é esta que não suporta a miséria do amado, e que pensa estar se unindo fantasiosamente à alguém perfeito?

Por fim, quero deixar aqui a Imagem desta belíssima obra de arte. A Verdade iluminada sendo revelada. Pode constranger, pode gerar certo desconforto, pode tudo. Todavia, o que mais ela pode é libertar especialmente as consciências, e sem sombra de dúvida te fará ser mais quem Deus deseja que você seja! Vale o risco, a Liberdade sempre vale o risco. Ah, e o chinelo, lembre-se sempre do chinelo de sua mãezinha.

 

 

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