“E criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1,27).
A grande obra prima criada por Deus somos nós Seres Humanos, como o bolo na festa de aniversário. Sem bolo, sem festa! A cereja deste bolo belíssimo é a sexualidade humana: masculina e feminina. Todavia, sabendo desta verdade universal, Satanás deseja desde sempre estragar a cereja para apodrecer o bolo, e por fim acabar com a festa da criação.
Para entendermos a grandiosidade da complementariedade essencial, e indispensável dos sexos vamos mergulhar no mistério da Santíssima Trindade, afinal, se fomos criados à imagem e semelhança de Deus, é olhando para a interação e integração das pessoas divinas que chegaremos à compreensão da verdadeira imagem criada, e entenderemos o que precisa ser restituído em nossa sexualidade tão atacada e distorcida nos dias atuais.
A pericorese trinitária
O termo pericorese foi empregado dentro do âmbito teológico inicialmente, provavelmente por Gregório Nazianzeno (séc. IV), porém, a aplicação para a doutrina trinitária ocorre por Pseudo-Cirilo (também séc. IV), onde ele define com este termo a interpenetração das pessoas da Santíssima Trindade. Trocando em miúdos, é a explicação teológica formal de como Deus é uno e trino ao mesmo tempo.
Santo Agostinho, algumas décadas depois de seus colegas, tentando colocar este mistério dentro de sua cabeça formula a seguinte sentença:
O Amante, o Amado, e o Amor.
Deus é amor eterno.
O Pai é o amante.
O Filho é o Amado.
O Espírito é o Amor que mantém unidos o Pai e o Filho.
Deus é em si mesmo uma Comunhão de Pessoas doadora de vida. O Pai, desde toda a eternidade, faz de si uma oferta de amor ao Filho (como lemos nas Escrituras, Jesus é o “amado” do Pai; ver Mt 3,17). E o Filho, eternamente recebendo a oferta do Pai, oferece-se também a Ele. O amor entre eles é tão real, tão profundo, que é em si outra Pessoa eterna: o Espírito Santo, eis a interpenetração (pericorese) das Pessoas divinas.[1]
A pericorese matrimonial
Entre outras coisas, é isso que o nosso ser feito à imagem e semelhança de Deus revela: somos chamados a amar como Deus ama, numa comunhão de pessoas doadora de vida. E fazemos isso especificamente como homens e mulheres. O homem, na própria essência do seu ser, está predisposto a doar-se para a mulher. E a mulher está predisposta na essência do seu ser a receber em si o dom do homem e a doar-se também a ele. E o amor entre os dois é tão real, tão profundo que, se for da vontade de Deus, pode transformar-se em outra pessoa humana.[2]
Ou seja, em outras palavras, a relação sexual como Deus sonhou é uma forma de participação na vida e no amor de Deus, e por este mistério tão belo somos cocriadores com Ele, coautores da vida.
Compreendendo esta verdade de nossa fé, fica fácil compreender o porquê de tanto esforço de Satanás para destruir a sexualidade humana com suas estapafúrdias ideologias, em especial a famigerada ideologia de gênero.[3]
A sexualidade restituída nos eleva a Deus
Tendo clara a força da sexualidade, não só como principal punção de vida de cada ser humano, mas também como trampolim fundamental de transcendência para o eterno, é evidente que sem tê-la purificada e restituída como Deus a desejou, a humanidade está fadada ao fracasso. O projeto família depende desta restituição. A continuidade da vida depende disso. A criação de novos filhos de Deus está sendo ameaçada em todo o globo como nunca antes foi.
Para iniciar o processo de restituição da sexualidade é necessário ter em mente (consciência) o seu valor incomensurável. Daí se segue alguns movimentos de purificação a se fazer:
- Purificação da memória para se buscar a cura de traumas gerados por abusos na sexualidade;
- Purificação dos papéis individuais de ambos os sexos. O masculino e o feminino possuem direitos e deveres próprios de cada um, e ambos possuem igual dignidade diante de Deus;
- Purificação do conceito de sexo em si, que em geral se encontra na caixinha do pecado, por conta da cultura pornográfica em que estamos inseridos, e de tantas falsas doutrinas disfarçadas de justas ideologias. A sexualidade e o sexo em si é algo maravilhoso, sonhado e desejado por Deus. Aqui deve se implementar uma verdadeira catequização da sexualidade, que passa pela educação biológica, mas quer atingir a transcendência espiritual do sentido mais sublime da vida;
- Explanação e desenvolvimento da virtude da castidade, que é a principal via ordenadora da sexualidade em si. E esta virtude que potencializa e dá sentido para o prazer, dentro das relações;
Com esses quatro pontos em curso o indivíduo pode afirmar estar mais próximo da imagem e semelhança de Deus perdida após o pecado original. Estará, então, preparado para viver o matrimônio, e até mesmo o celibato, de acordo com sua vocação estado de vida, propagando com sua sexualidade o amor livre, total, fiel e fecundo de nosso Deus, sem medo de ser feliz, e contribuindo a restituição de toda a criação.
Referências:
[1] WEST, Christopher. Boas Novas sobre sexo e casamento – Respostas para as suas principais dúvidas sobre o ensinamento católico. Cultor de Livros, São Paulo, 2019, p.26-27.
[2] WEST, Christopher. Boas Novas sobre sexo e casamento – Respostas para as suas principais dúvidas sobre o ensinamento católico. Cultor de Livros, São Paulo, 2019, p.27.
[3] A “ideologia de gênero” é uma expressão usada pelos críticos da ideia de que os gêneros são, na realidade, construções sociais. Para os defensores desta “ideologia”, não existe apenas o g6enero masculino e feminino, mas um espectro que pode ser muito mais amplo do que a identificação somente com o masculino e feminino. Consiste, portanto, na ideia de que os seres humanos nascem iguais, sendo a definição do masculino e do feminino um produto histórico-cultural desenvolvido tacitamente pela sociedade.
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