Já disse algumas vezes, mas volto a repetir: esse é um assunto caro para mim. Gosto bastante de estudar, falar e escrever sobre. E agora não poderia ser diferente. Acredito que para entendermos sobre qualquer assunto, é importante sabermos o conceito deles, sem polarização ou enrustido demais, apenas o seu significado já é um ótimo começo.
A Instituição desse estado de vida encontra-se no Evangelho de Mateus, no capítulo 19: “Jesus respondeu: nem todos são capazes de entender essa doutrina, só entendem aqueles a quem Deus dá entendimento. Porque há pessoas que não se casam por amor do Reino dos Céus…”.
Uma passagem tão conhecida, mas infelizmente não muito compreendida nos tempos modernos. Vemos que esse conceito surge a partir da vinda do Messias, é Cristo que dá o verdadeiro sentido ao celibato, de modo que, sua realização perfeita se dá somente e tão somente quando existe uma entrega livre, fiel, fecunda e com um bom porquê: O Reino!
“Não honramos a virgindade por si mesma, mas por estar consagrada a Deus”
– Santo Agostinho
O Matrimônio resolve tudo?
Claramente, no mundo de hoje, não é o celibato apenas que está sendo relativizado, mas grandes verdades de fé. E de maneira sutil (sendo delicada): dentro da Igreja. Como se, para que pudéssemos resolver todos os problemas de cunho sexual, seja ele entre membros do clero, religiosos e leigos consagrados, seria mais fácil então casar todo mundo.
Portanto, com base em alguns conselhos paulinos, vemos que é melhor não se casar do que casar errado, por desespero, falta de opção ou desordem sexual. Claro que ele ainda diz que: a pessoa é deveras abrasada então que se case, no entanto, aqueles que não possuem o chamado ao matrimônio e assim o fazem, atraem sobre si uma cruz muito maior e demoram ou, em alguns casos, não chegam na alegria matrimonial perene, mas que por misericórdia divina, recebem a graça de sustentarem seus casamentos até a morte.
No mais, um estado não anula o outro. É exatamente porque o matrimônio e a relação sexual são belíssimas que torna o celibato tão belo quanto, o que acontece no entanto, é que um é mais perfeito que o outro, explico! Jesus diz, no céu eles não se dão em casamento, mas seremos COMO (conjunção adverbial comparativa) os anjos. Essa é a grande diferença, pois um se assemelha mais ao nosso estado definitivo.
“A relativização escatológica que o celibato impõe ao matrimônio não lhe diminui a alegria, mas a preserva do desespero, abrindo-lhe também um horizonte para além da morte!”
– Raniero Cantalamessa
Eles se casam com Cristo mesmo?
Vemos então, que esse estado de vida é de fato, um grande tesouro da igreja. Mas vemos que é exatamente o sacrifício celibatário que é agradável a Deus, assim como Cristo se oferecia constantemente ao Pai. Vejam, se tiramos a mística da coisa, só vira um monte de religioso, leigo ou sacerdote mal-amados, segurando uma corda que tá por um fio e não vê a hora de liberar geral.
Precisa existir uma entrega CORPÓREA e ESPIRITUAL, essa é a grande beleza, foi pra isso que Cristo os chamou e não para viver numa tensão sexual constante, como aquele pensamento freudiano de que tudo acaba em sexo. E aqueles que não são capazes de viver, que não o assumam de fato, pois a má vivência da vocação e suas consequências é o que mais vemos.
Mas respondendo ao subtítulo: sim, dizemos que é um casamento com Cristo, pois é a realidade que mais se aproxima. O matrimônio espiritual é diferente do sacramento matrimonial, não é loucura da minha cabeça, mas diversos santos já escreveram sobre. No Antigo Testamento e no Cântico dos Cânticos, vemos perfeitamente como Deus gosta de usar alusões matrimoniais com o seu povo.
Não adianta tratar Jesus como o carinha que tu acabou de conhecer ou como seu próprio esposo, Ele é mais que isso! Jesus precisa ser mais, pois romantizar um pouco é saudável, mas fingir ser um anjo nessa terra é loucura. Portanto, TODOS somos chamados ao matrimônio com Cristo (sétima morada) e aqueles que são chamados ao celibato, tem primazia nessa decisão.
É um anseio Escatológico
Existem e existiram pessoas santas que foram mártires da castidade, mesmo sabendo que o casamento é lícito e bom, aqueles que derramaram seu sangue pelos votos virginais que tinham feito a Cristo, de Santa Inês a Santa Maria Goretti. De um São Francisco, de um padre Pio e assim por diante.
É preferível que nos apoiemos nos bons exemplos, para que a nossa esperança seja real e palpável, não uma “esperança” que não sabe da realidade e que não conhece a si mesmo, e da luta. Mas que é muito possível de se viver plenamente feliz e realizado na vida celibatária.
Se nossas famílias bem educarem seus filhos, teremos virgens consagrados mais saudáveis, assim como outras famílias ordenadas. O celibato, no final, deve ser um sinal da eternidade ambulante, de que existe mais além desta terra. Existe um céu maravilhoso nos esperando, e mais do que isso, o Esposo tão desejado está lá, o Cordeiro e Leão.
“Nesse sentido podemos dizer que o celibatário desposou o Senhor, não apenas uma causa, não está desposando só para o tempo, mas também para a eternidade. Aquilo que prende o celibatário ao Senhor é um vínculo totalitário, acima de qualquer outro vínculo, que no plano humano encontraremos algo equivalente só nas núpcias de um homem com uma mulher.”
– Raniero Cantalamessa
Referências:
Virgindade – Raniero Cantalamessa
Sacra Virginitas – Carta Encíclica, Papa Pio XII
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