O vazio me incomoda!

Uma das expressões artísticas que eu mais admiro é o Grafite (Grafite, tá? Pichação é sujeira!). Nos seus diversos estilos e traços, essa arte de origem nova iorquina enriquece os muros com cores e mensagens que trazem vida à cidade. Essa selva de pedra passa a ser uma selva de pedras coloridas. Melhor, né?

Um desses traços, de autor desconhecido, tem me tocado há certo tempo. Esse “O vazio me incomoda” da foto fica no caminho entre minha casa e a estação de trem, por isso sou impactado por ele todos os dias e essa recorrência gerou em mim a questão: por que o vazio me/nos incomoda?

Sem demorar muito, o Senhor me respondeu com uma frase de Santo Agostinho:

“Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em Ti”.

Um vazio do tamanho de Deus

E tem outra frase bem conhecida que casa muito bem com essa: “Existe um vazio no seu coração e esse vazio é do tamanho de Deus”.

E eu, como gosto de adaptar frases, diria que esse vazio não é do tamanho de Deus porque isso pode dar a impressão de que esse buraco é infinitamente gigante igual a Deus, meio desesperador não? Ao invés disso, eu diria que esse vazio tem o formato, a forma, o encaixe de Deus.

Brincando de encaixar peças

Sabe aquele brinquedo de encaixar peças que são para crianças bem novinhas? Elas nunca conseguem colocar a peça no formato certo, ficam batendo tentando empurrar o cilindro no quadrado e começa a dar um nervoso porque é tão óbvio, mas ela não consegue encaixar corretamente.

Nós somos essas crianças e alguns de nós passam a vida inteira tentando encaixar coisas no lugar de Deus, mas nunca cabe. Não adianta tentar encaixar a estrela no buraco quadrado, nem o círculo no lugar do triângulo.

Nessas tentativas, a criança só bate no brinquedo, mas ele continua vazio por dentro, as peças não encaixam. O brinquedo continua vazio, o coração continua vazio e o vazio incomoda.

O encaixe perfeito

Na comunidade, às quartas-feiras, vivemos o dia central da espiritualidade que chamamos de “dia de cela”. Nesse dia buscamos com mais intensidade a oração, o silêncio, a solidão, o jejum e a interiorização.

É um dia que para os outros, por não estar lotado de afazeres, pode parecer vazio, que se vivido incorretamente e só não fazer nada, pode ser vazio. Mas a cela não é pra ser um lugar vazio. É pra ser um lugar de Deus. Não um incômodo, mas um encaixe perfeito.

Graça de Deus

O fato de o vazio interior incomodar é uma grande graça de Deus. Esse incômodo não permite a acomodação, pois só vai deixar de incomodar quando repousarmos, no céu, no Senhor.

Até lá? Luta e incômodo pela santidade ou uma vida de ilusões vazias. A escolha é livre e individual.

Tamo junto e que Deus nos incomode!