O mal: Onde nasce, e como se propaga!

“‘Não entendeis que tudo que vem de fora, entrando no homem, não pode torna-lo impuro, porque nada disso entra no coração, mas no ventre, e sai para a fossa?’ (Assim, ele declarava puros todos os alimentos.) Ele dizia: ‘O que sai do homem, é isso que o torna impuro.'” (Mc 7,18b-20a).

É necessário ter o mínimo de conhecimento para se entender as sagradas escrituras, o problema é que, hoje, nós católicos e, ampliando, cristãos em geral, não temos nem o “mínimo”, o que acaba nos levando a interpretações erradas das Sagradas Escrituras e, o pior, nos levando a cultivarmos uma fé fantasiosa e extremamente prejudicial à nossa própria salvação.

Então, nem vós tendes inteligência?

O trecho do Evangelho de Jesus citado acima é exemplo disso. Se não o interpretarmos corretamente, cientes de para quem Jesus o dirige, em que contexto e com que objetivo o faz, corremos o risco de colocar nossa conversão em um risco alto, e jogarmos pelo ralo os poucos passos de santidade que damos com tanto esforço.

Vire e mexe eu escuto o seguinte discurso por aí: “Jesus disse que nada que vem de fora pode me tornar impuro, porque todo o mal nasce do nosso próprio coração!”

Entretanto, na maioria das vezes, nos comportamos como os apóstolos e, hoje, o próprio Jesus nos questiona: “Então, nem vós tendes inteligência?” (Mc 7,18a)

Toda a maldade nasce no coração do homem, é fato! Afinal as situações malditas, fofocas, maledicências, devassidões, invejas, difamações não surgem do nada. Alguém precisou arquitetá-las. Alguém precisou dar vazão à corrupção nascente em seu interior e, então, transformá-la em atitude, projeto, ou sabe lá mais o que, e fazer com que ela se propague pelo mundo.

O Mal nasce dentro, mas se propaga fora

Os filmes pornográficos, por exemplo, nascem de um coração luxurioso, ganancioso e perverso, que simplesmente resolveu dar vazão à sua podridão, para satisfazer seus próprios interesses e desejos escusos (Mc 7,21-23). Um coração invejoso gera a disputa e propaga a destruição do outro. Um coração guloso gera as situações de descontrole, que podem acarretar em um consumo desenfreado, propagando a cultura do consumismo. Bom, por aí vai.

O discurso de Jesus é dirigido a judeus, e tem por objetivo criticar as tradições farisaicas, que se preocupavam muito mais com o exterior do que com o interior do homem. Para eles, muitos alimentos eram impuros e, ao serem ingeridos, converteriam o homem puro em impuro também. Todavia, não prestamos atenção direito no texto, afinal, Jesus deixa claro que está falando de alimentos:

[…] “porque nada disso entra no coração, mas no ventre, e sai para a fossa? (Assim, ele declarava puros todos os alimentos).” (Mc 7,19)

Leia com atenção

O tradutor da bíblia de Jerusalém fez questão de colocar entre parênteses do que Jesus estava falando. Porém, passamos despercebidos e, displicentemente, reproduzimos o texto que recebemos e não o que lemos na bíblia. Que risco! Não entendemos o contexto, não entendemos quem é o destinatário e nem sequer lemos, somente reproduzimos. E o pior, achamos em nossa soberba burrice arrogante, que nada nos atingirá. Ledo engano.

Um jovem que a duras penas conseguiu se libertar da masturbação, caso caia na tentação de ver pornografia de qualquer tipo, voltará a praticar o pecado de que fora liberto. A mulher que não peca mais com a língua, se der ouvidos aos fofoqueiros, terá a chama da maledicência novamente acesa em seu coração. O vício do consumismo, que mina a pobreza evangélica, facilmente ressuscitará em nós a vaidade, se não zelarmos por uma vida simples. A soberba satânica que nega a obediência cristã poderá ser insuflada em nós novamente, com apenas uma frase torta de autossuficiência e de vanglória.

Melhor queimar livros do que almas

Veja o que no ensina Dom Bosco, o santo fundador da ordem dos Salesianos:

“Mas, ao mesmo tempo em que recomendo as boas leituras, aconselho-te que fujas dos maus livros. Todo livro, jornal ou folheto que ataca a Igreja e seus ministros, ou que contenham imoralidades, são extremamente perigosos para a formação. Afaste-se disso, como fosse de um copo de veneno.

Nisto devemos imitar os cristãos de Éfeso, quando ouviram São Paulo pregar sobre o dano que causam maus livros. Aqueles fervorosos fiéis os carregavam para a praça pública e fizeram uma fogueira, achando melhor queimar todos os livros do mundo do que expor a alma ao perigo de cair no fogo do inferno.” (Dom Bosco)1

Em resumo, cuidado porque dentro de nós existem dois moradores, o doce hóspede da alma, o Espírito Santo (isso se você for batizado) e a maldita inclinação ao pecado (existe em todos nós, não tem jeito), resta saber qual deles você deseja alimentar. Cuidado! Não existe ração que alimente gato e cachorro, peixe e pássaro, réptil e mamífero. Dependendo do alimento que ingerires, você desnutrirá o Santo que você tem lutado para se tornar, e tornará forte o pecador que quer se autodestruir!

“Trato duramente o meu corpo e reduzo-o à servidão, a fim de que não aconteça que, tendo proclamado a mensagem aos outros, venha eu mesmo a ser reprovado.” (1Cor 9,27)