“O essencial é invisível aos olhos” Será?

Abro essa reflexão com a célebre fase de Antoine de Saint-Éxupery, autor do famoso livro “O pequeno príncipe”, que diga-se de passagem, tem falado muito comigo nesses últimos tempos, mas dessa vez, não a evidencio com o simples objetivo de concordar e discorrer a respeito, mas também de questionar, será mesmo que o essencial é invisível aos olhos?

Uma das definições de essencial nos diz que se trata do mais importante, o mais central em algo; fundamental.

A partir disso já podemos começar a pensar, na perspectiva de nossa própria vida, todos nós, trazemos em si um algo essencial. Além disso, expandindo um pouco a nossa visão, percebemos que em tudo há um algo essencial, não apenas nas pessoas, mas também nas estruturas sociais, nas ideias e até mesmo nas coisas.

O essencial está em tudo, porém, nem tudo é essencial.

Outra experiência que vale a pena mencionar foi um bate papo informal (são esses momentos os mais preciosos para escutar a Deus), que ouvi de um irmão muito querido, Júlio Neto (consagrado na Comunidade Aliança de Misericórdia), a respeito de alguém que ele se referiu como “uma pessoa essencial”… Fiquei com isso na cabeça, ou melhor no coração, e desde então sigo pensando, e eu? Sou alguém também essencial?

Como se trata, aparentemente, de algo subjetivo, um dos caminhos para entender esse tipo de “algo” é entendendo o que ele não é, então, indo direto ao ponto, um dos antônimos encontrados de essencial é dispensável e supérfluo. Agora, fica um pouco mais fácil pois, voltando ao princípio de que o essencial está em tudo, também pressupomos que, em tudo também pode estar o dispensável ou supérfluo.

Tudo pode parecer ainda muito confuso para você, que pacientemente leu o texto até aqui, no entanto, fica comigo, te garanto que vai valer a pena!

O essencial segundo as Sagradas Escrituras

Não teremos tempo de examinar o essencial de tudo, mas temos a oportunidade de examinar o essencial da vida humana, usando como pano de fundo as sagradas escrituras e as sábias palavras de Santo Inácio de Loyola.

Segundo o livro do Genesis, “o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus”, ou seja, somos criados essencialmente para sermos reflexo de nosso criador, daquele que desde sempre nos sonhou. Esse texto, por muito tempo foi difícil de entender pois, o Senhor o inspirou antes de se revelar plenamente, antes de mostrar à humanidade qual o rosto concretamente a ser refletido. Ele o Senhor já sabia, pois inspirou São João a escrever, “no princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus” (Jo 1, 1). O rosto estava lá na criação do mundo, o espelho que padronizaria o reflexo, cujo nome hoje conhecemos, Jesus Cristo, a revelação concreta de Deus.

Já Santo Inácio, em sua definição denominada “Princípio e Fundamento” nos diz: “O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e assim salvar a sua alma. ”

Antes de seguir, gostaria apenas de chamar a atenção a um verbo na frase acima que, lendo rapidamente pode passar desapercebido, mas acredite, ele é “essencial”, trata-se do “é”, entre homem e criado pois, Santo Inácio, poderia ter usado “foi”, na perspectiva de que após a nossa concepção, a criação do homem se dá como terminada, no entanto ele preferiu usar “é” como quem destaca que a criação do homem é constante, ou melhor, que O criador não se desconecta da criatura, Ele sustenta a criatura, Ele o mantem em criação, na expectativa de receber de volta, como aceitação dessa condição, um eterno louvor e reverencia, devolvendo a Ele, livremente aquilo que sempre foi dEle, a vida.

O essencial é o Cristo, é ser cristão

Ao unificar todas essas verdades, podemos chegar a uma óbvia conclusão, Jesus se fez homem para ensinar a humanidade como viver essencialmente, refletindo o rosto do criador através de uma vida reta e obediente, que em tudo evidenciava a Deus, e nos deixou esse caminho de aceitação da salvação a nós concedida por pura graça.

Tudo parece perfeito se não tivéssemos inseridos em contextos tão adversos, sendo impactados diariamente com muitas informações, ruídos, sentimentos, motivações, escolhas, etc.

Um caminho de busca pelo essencial, passa pela capacidade de fazer escolhas que te aproximam do mesmo, que a essa altura, já está claro ser o próprio Senhor Jesus, o Deus criador revelado, e como já aprendemos, pressupõe eliminação do dispensável e supérfluo. Em nosso dia a dia, por sermos seres de relação, somos impactados de todos os lados, e precisamos construir a capacidade de filtrar, absorvendo aquilo que nos aponta para o centro e nos distanciando daquilo que nos empurra para margem. Aqui é preciso dizer, está o pecado!

O caminho para chegar no Essencial

O caminho de tornar-se essencial, antes de plenamente tornar-se um novo Cristo, possa por passos menores que são muito concretos e vão nos configurando à essência.

Para ilustrar o que quero dizer, basta observar a vida monástica, os nossos irmãos monges não são seres extraterrestres, são homens e mulheres normais, que escolheram radicalmente tonar-se, através de um estilo de vida particular, pessoas essenciais. Você já conversou com o monge? Se sim, lembre-se agora, se não, sugiro que o faça urgente!

Não quero dizer que precisamos nos configurar aos monges, o que quero dizer é que precisamos lutar mais para nos tornar pessoas menos supérfluas, dispensáveis e mais essenciais.

Observe a oração com mais carinho, observe o silencio com mais carinho, observe a solidão com mais carinho, observe o desapego com mais carinho… observe, observe e tome uma atitude!

Alguém essencial na vida do outro, é alguém que o ajuda a se aproximar da essência. Pense nisso, e reveja seu comportamento, assim como eu, em suas relações!

Ah, quase me esqueci… “O essencial é invisível aos olhos” Será?  Digo que não, o essencial é muito visível, ele É Aquele É, na minha e na sua vida!

Graça e Paz,